Você Sabia? Pergunte Aqui!: agosto 2014

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

As cinco substâncias mais venenosas do mundo

Com o anúncio de um novo inquérito sobre o assassinato de Alexander Litvinenko, russo que foi envenenado em 2006 em Londres com polônio, o envenenamento volta aos noticiários.
Na internet, é possível encontrar vários artigos com as listas das substâncias mais venenosas, que muitas vezes são reunidas com base na sua toxicidade aguda, conforme um índice chamado DL50. Entretanto, a toxicidade aguda é apenas um fator que precisa ser considerado e depender exclusivamente da DL50 ou medidas similares é demasiado simplista.

A DL50 (abreviação de dose letal mediana) mede a dose de uma substância necessária para matar metade de uma determinada população, normalmente de camundongos. Normalmente, é medida com a dosagem necessária pela unidade de peso do animal. Esta parece ser uma forma cruel, mas objetiva, de quantificar o quão mortal uma determinada substância é, porém, a toxicidade global é mais complexa do que isso.

Toxicologistas estão cientes das limitações da DL50 e, por razões técnicas, éticas e legais, medir estes valores em animais é cada vez menos comum. Então aqui vai uma lista de substâncias que são mais venenosas do que os seus valores de DL50 podem indicar.

5. Mercúrio


Os efeitos nocivos do mercúrio são, talvez, mais renomadamente exemplificados pelo Chapeleiro Maluco de Lewis Carroll, que era cronicamente exposto ao mercúrio no exercício de sua profissão. Mas a toxicidade do mercúrio é muito mais complicada que isso, dependendo muito do tipo de mercúrio envolvido. Compostos de mercúrio orgânicos e inorgânicos têm efeitos diferentes e, por conseguinte, também são os seus valores de DL50 (que estão tipicamente entre 1mg e 100 mg/kg).

O mercúrio puro é consideravelmente menos tóxico, como ilustrado dramaticamente com o caso de uma assistente de dentista que tentou o suicídio injetando o elemento líquido em suas veias. Dez meses depois, ela estava efetivamente livre de sintomas, apesar de ter mercúrio espalhado pelos seus pulmões.

4. Polônio-210


O radioisótopo usado para matar Alexander Litvinenko é extremamente tóxico mesmo em quantidades inferiores a um bilionésimo de um grama. A DL50 de este composto não é uma propriedade da sua composição química. Enquanto outros metais tóxicos, como o mercúrio e o arsênico, matam através da interação do metal com o corpo, o polônio mata emitindo radiação que destrói biomoléculas sensíveis, tais como DNA, e mata as células. Sua meia-vida – o tempo necessário para desintegrar metade do material ingerido – é de cerca de um mês, levando a uma morte lenta por envenenamento por radiação.

3. Arsênico


O arsênico elementar tem uma DL50 de cerca de 13 mg/kg – ordens de magnitude maior do que algumas das substâncias desta lista. Apesar disso, a Agência de Substâncias Tóxicas e Registro de Doenças lhe confere o topo do ranking em sua lista prioritária de substâncias perigosas.

Isso destaca uma questão fundamental: o quão comum uma substância é e quão alta a probabilidade de você ser exposto a ela. Desconsiderando ex-espiões, suas chances de ser exposto ao polônio ou à toxina botulínica em quantidades letais são desprezíveis. Porém, a exposição crônica a metais tóxicos é um problema real para muitas pessoas ao redor do mundo, e uma simples medida de letalidade aguda como a DL50 simplesmente não pode capturar isso.

2. Toxinas de cobra


A maioria dos venenos de serpentes são uma mistura de muitas proteínas com uma DL50 frequentemente abaixo de 1 mg/kg. Uma complicação importante aqui, no entanto, é a velocidade de atividade. Enquanto alguns venenos de serpentes podem ser altamente potentes, outros, menos potentes, podem matar mais rápido. Esta é uma informação vital. Um veneno potente, mas de ação lenta, pode dar tempo suficiente para que haja uma intervenção médica, enquanto um veneno de ação rápida, mas com uma DL50 menor, poderia matá-lo antes que você possa conseguir ajuda.

1. Toxinas botulínicas


Mesmo que algumas delas sejam utilizadas na indústria de cosméticos (incluindo no botox), a família de neurotoxinas botulínicas inclui as substâncias mais tóxicas conhecidas pelo homem. Os valores de DL50 apurados para estas sete proteínas são cerca de 5 ng/kg (ng significa nanograma, que é um bilionésimo de um grama).
Quantidades não letais injetadas em camundongos podem paralisar o membro afetado durante um mês. A seletividade excelente destas toxinas para certos tipos de células do corpo humano é notável, mas também significa que muitas espécies (incluindo todos os invertebrados) simplesmente não são afetados. [Phys.com]

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Por que esta é a mais terrível epidemia de ebola de todos os tempos

Uma criança de dois anos tem, no dia 2 de dezembro, sintomas de vômito e febre. Em seguida, falece no dia 6. Sua mãe falece poucos dias depois, no dia 11, seguida pela irmã da criança, de três anos, no dia 29. A avó falece em 1° de janeiro. A enfermeira e a parteira que cuidou delas adoecem mais tarde, naquele mesmo mês. A parteira consegue chegar a um hospital em Gueckedougou antes de falecer, mas no processo infecta o parente que a levou até lá.

O doutor que a atendeu e outros pacientes em Gueckedougou sucumbem à doença e são transferidos para outro hospital na cidade de Macenta. Depois dele falecer, seu funeral foi feito na cidade de Kissidougou. No curso desta jornada, antes e depois de falecer, ele deu início a surtos em Macenta e Kissidougou.

Em 10 de março, os centros de saúde pública de Macenta e Gueckedougou alertam o Ministro da Saúde da Guiné sobre a doença fatal, cujos sintomas eram diarreia, vômito e febre. Dois dias mais tarde, o grupo Médicos sem Fronteiras estava no caso. Amostras de sangue foram coletadas e enviadas ao Instituto Pasteur, em Lyon, onde a presença da variante Zaire do vírus do ebola foi descoberta.

Em 23 de março, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou um alerta sobre o surto.

Tudo que foi escrito acima parece um roteiro de um filme de terror, mas é a realidade. Isso tudo está acontecendo agora, na África Ocidental. As últimas notícias dão contam que o médico que estava à frente da equipe que enfrentava o surto em Serra Leoa, Dr. Sheik Umar Khan, havia contraído o vírus. Além disso, a doença já matou 206 dos 442 infectados em Serra Leoa, 310 dos 410 casos na Guiné, e 116 dos 196 casos na Libéria. Já é a pior epidemia de ebola registrada.

Mas o que é o ebola?

O ebola é um vírus, o que significa que ele não tem meios próprios de se reproduzir, e sim precisa infectar uma célula para isso. O ebola tem cinco variantes, nenhuma delas agradável. Do menos ao mais letal, são os seguintes tipos:

5. Reston – o único que foi descoberto primeiro fora da África, vitimou macacos de um laboratório em Washington DC (EUA). Mais tarde, descobriu-se que ele se originou nas Filipinas, e ocorre em porcos. Não há registros de que um humano tenha adoecido depois de ter contato com este vírus.

4. Floresta Tai – ataca os chipanzés no parque nacional Tai, onde uma das tribos de chipanzés foi reduzida de 80 a 32 indivíduos. Passa de macaco para macaco, mas um pesquisador foi infectado e se tornou o único caso desta doença em humanos, embora tenha se recuperado.

3. Bundibugyo – surgiu na Uganda em 2007 e até hoje matou 66 pessoas, desde sua descoberta. Sua taxa de mortalidade é de 25%, mas, em um surto recente, de 2012, apresentou 51% de taxa de mortalidade.
Enormes fotos de minúsculas coisas que nos deixam doente

2. Sudão – foi encontrado no Sudão em 1976, mas passou para Uganda também, e tem uma taxa de mortalidade de 53%. O último caso relatado foi em 2011.

1. Zaire – variante mais letal do vírus, sua taxa de mortalidade era de 88% quando foi descoberto em 1976, e é o responsável pelo atual surto de ebola na África Ocidental.

Como o vírus mata?

Ele se aproveita de um mecanismo do nosso sistema imunológico. Normalmente, os capilares sanguíneos são “impermeáveis”, mas quando recebem sinais de infecção, se tornam permeáveis para permitir o tráfego de células do sistema imunológico para o tecido em volta.

O vírus do ebola infecta células do sistema imunológico, obrigando-as a liberar as mensagens químicas que tornam os capilares permeáveis. O vírus então pode escapar do sistema sanguíneo e atacar outras células. Só que os capilares continuam permeáveis, e começam a perder sangue. Onde o sangue se acumula, formam-se coágulos. Onde o sangue deixa de chegar, os tecidos começam a morrer.

O sangue começa a vazar para os intestinos e pulmões, causando diarreia, vômitos e tosse. Em alguns casos, os pacientes sangram até pelos olhos. Este sangue e fluidos estão cheio de vírus, e qualquer pessoa que entre em contato com eles pode ser infectado.

De onde vem este vírus?

Normalmente, os vírus estão adaptados a seus hospedeiros, e não os matam. Não é um bom negócio para o vírus matar seu hospedeiro. Como ele é tão letal a seres humanos quanto a macacos, isto indica que não são estes seus hospedeiros naturais, mas sim um morcego.
Atualmente, acredita-se que morcegos frugívoros sejam os hospedeiros principais do ebola, passando-o a outros animais, como antílopes, veados e porcos-espinho, que por sua vez o passam para os humanos. Ou seja, caso uma pessoa entre em contato com a carcaça de um animal que morreu deste vírus, é infectado.

A infecção de humano para humano ocorre através de fluidos, o que significa que você não vai morrer se tocar em alguém saudável, só em alguém que esteja vomitando sangue, suando sangue, com diarreia de sangue, ou tudo isso junto. A transmissão pode ocorrer também pelas roupas de cama que os doentes tocarem, móveis, utensílios, etc.

O que está sendo feito para conter este surto?

Várias organizações estão mobilizadas para conter este surto, incluindo o Ministério da Saúde da Guiné, os Médicos Sem Fronteiras, a Cruz Vermelha, o Crescente Vermelho (versão muçulmana da Cruz Vermelha) e a OMS. As estratégias de combate se baseiam em:

a) esclarecer as pessoas sobre o ebola, ensinando-as se proteger e a suas famílias;

b) encorajar as pessoas a relatar novos casos; quanto mais cedo o paciente recebe tratamento, melhores suas chances de sobreviver e menos eles espalham o vírus;

c) quarentenas para pacientes infectados e uso de equipamentos de proteção, como luvas e máscaras;

d) o hábito de lavar as mãos; o estabelecimento de laboratórios móveis para identificar rapidamente novos casos, liberando pacientes de outras doenças sem expô-los ao vírus;

e) fornecer tratamento onde for possível, que consiste atualmente em reidratação do paciente;

f) o banimento do consumo de morcegos e de caça;

g) assistência aos enterros, já que o contato com os fluidos corporais passa a doença adiante;

h) banimento de funerais, já que estes eventos proporcionam propagações em massa da doença.

Infelizmente, o último ponto é o que mais tem causado problemas, já que é difícil acabar com velhos costumes, e o banimento de um que é tão caro para as famílias, os funerais dignos, tem causado revolta entre as comunidades.

Por causa disso, até mesmo as equipes médicas têm sido atacadas. Pacientes que estavam em quarentena foram “libertados” por rebeldes, “afinal de contas, tudo não passa de uma conspiração do governo para matar as pessoas”, fazê-las desaparecer e só ressurgirem depois mortas, e serem enterradas sem que seus parentes possam confirmar que elas morreram.

Além disso, entre os que acreditam no ebola, há os que acham que se trata de bruxaria e que os sobreviventes são zumbis, com casos de pacientes sendo rejeitados e expulsos de suas comunidades.

Ainda há os que simplesmente desistem, acham que se trata de uma sentença de morte (em mais de 90% dos casos é), e preferem passar seus últimos momentos com suas famílias – o que não é bom para a família.

Em quê isto me afeta?

Bom, além do aspecto do sofrimento humano, existe a possibilidade de um surto mundial de ebola – uma pandemia. Quanto maior o surto local, maiores as chances de pandemia.

Até agora, não apareceu nenhum caso fora da África e, se acontecer, ele pode ser rapidamente contido, desde que os grupos antivacinação não se tornem também grupos de negadores do ebola. Esperamos que isso nunca aconteça, já que até agora não foi possível ensinar a todo mundo sequer a importância de lavar as mãos.

Além disso, no caso de uma epidemia de ebola, não vão faltar os paranoicos para dizer que se trata de uma trama de [insira qualquer tipo de organização, instituição ou grupo aqui] para dizimar a humanidade, ou do governo [de qualquer lugar] para se livrar de gente incômoda e coisas do tipo.
Pode parecer – e é – besteira, mas as pessoas vão fazer de tudo para evitar que alguém do governo, vestido de jaleco branco e acompanhado do Exército, venha para levá-los a uma quarentena da qual só uma pessoa em 10 retorna e as outras desaparecem sem deixar traço.

Se você quer ajudar de alguma maneira, faça doações para o Médicos Sem Fronteiras, ou para a Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho e incentive outros a fazer também. Parte das dificuldades para conter este surto devem-se às condições precárias de infraestrutura, materiais e pessoal.

Fonte: Hypescience.