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segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Existem de fato apenas 3 estados da matéria? (sólido, líquido e gasoso)

Líquido, sólido e gasoso. Quem não se lembra de aprender sobre isso nas aulas de ciência, ou dos desenhos para saber como se chamam a transformação de um estado para outro? O problema é: depois que a gente cresce e se aprofunda no conhecimento, outros estados surgem, o que ainda é ignorado nas escolas infantis. Seus filhos – e talvez os filhos deles- continuaram a aprender apenas sobre os três estados da matéria. 





Mas e o plasma? Será que professores pensam que as crianças não conseguem entender que pode ser outro estado? Livros da escola poderiam ensinar “Os três mais conhecidos tipos de matéria” ou “Os três tipos de matéria que são cientificamente mais familiares” ou algo nesse sentido, o que pelos menos implicaria que existem outros estados da matéria que você pode aprender sobre tarde na sua educação.



Mas não. Possivelmente as crianças só vão saber da existência de outros estados de matéria se aprofundarem seus estudos nisso quando ficarem mais velhas.

Enquanto “estados” é um termo comum para descrevê-los, o que importa realmente é a sua forma; sendo assim, para falar de estados, vamos usar o termo “fase”. 



“Fase” descreve com mais precisão a situação que uma parte específica da matéria está, mas em alguns contextos específicos “estado” pode ser mais adequado. “Fase” (ou estado) da matéria pode ser considerada como a área do espaço durante a qual todas as propriedades físicas da substância são uniformes. Essa uniformidade é quimicamente a mesma em todo o material, e fisicamente distinta das substâncias nas proximidades. Os tipos mais comuns de alterações nas fases de matéria consistem em alterar as suas características físicas. 

 


A melhor maneira de pensar em uma mudança de fase da natureza física de uma substância é o exemplo comum de água, gelo e vapor, aquele mesmo que você aprendeu no colégio, com os desenhos que a professora fazia no quadro. Eles podem ocupar quase a mesma região do espaço, e ser completamente diferentes em fases. Pense em um copo de água gelada. O gelo se encontra em fase sólida, a água está na fase líquida, e o ar úmido que consiste no gás de evaporação é outra fase. Embora quimicamente sejam os mesmos elementos, o que os tornam diferentes fases é que eles estão fisicamente distintos uns dos outros.

A transição dos tipos de matéria para fases diferentes depende basicamente da quantidade de calor presente. Por exemplo: se você adicionar calor a algo que esteja sólido, possivelmente ele sofre uma transformação para a fase líquida. Claro que existem algumas exceções, devido às circunstâncias ambientais. Se você continuar colocando calor, ocorrerá a transição para gás. E então, se você permanecer aquecendo, o gás se transforma em plasma.

O plasma é criado quando os elétrons de um átomo estão tão carregados que têm energia para escapar do centro do núcleo carregado positivamente e reagir com qualquer núcleo semelhante.

Na outra extremidade do espectro, é a remoção total de calor do material. Quando você continua resfriando uma substância a quase zero absoluto, você pode obter o que é conhecido como um condensado de Bose-Einstein. Devido à necessidade de manter as substâncias em temperaturas extremamente baixas, isso não ocorre naturalmente no universo, mas teoricamente, pode existir.

Existem ainda outras fases da matéria menos conhecidas, que envolvem características magnéticas da substância. O exemplo mais recente foi descoberto por cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA), que foram capazes de fazer crescer um cristal (sólido) que tinha características magnéticas de um líquido. Enquanto a maioria dos sólidos magnéticos definiram áreas positivas e negativas dentro da substância, conhecidas como momentos magnéticos, os específicos deste cristal oscilaram constantemente, sem influência externa. Com isso, eles descobriram um novo tipo de magnetismo, além de um estado de matéria. 

   


Com o avanço da tecnologia, os cientistas utilizam técnicas cada vez mais sofisticadas que permitem desmontar e montar todos os aspectos do nosso universo físico. Com isso, é possível descobrir novos estados de matéria, que mudam as características físicas das substâncias.

Hoje, existem quatro tipos de matéria clássica (que ocorrem naturalmente), oito tipos que são chamados de estados de baixa energia e não são simples, três estados de energia alta, também não simples, e três que são classificados separadamente por causa das propriedades magnéticas que possuem. Logo, há muitos mais estados da matéria do que os três comumente conhecidos: sólido, líquido e gasos. O número exato e a natureza desses estados vai continuar mudando à medida que a tecnologia e a ciência avançam.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

O lado bom dos sentimentos ruins

A mulher mais rica do Reino Unido ganhou sua fortuna escrevendo um livro juvenil durante uma crise de depressão, enquanto sustentava sua filha com ajuda do governo. Tinha acabado de perder o emprego e de se divorciar. O maior filósofo do século 20 não passou no vestibulinho do colegial e sofreu bullying na escola por escrever errado, ter péssima memória e não fazer amizades - não se interessava em conviver com pessoas. Humanos também não eram os seres prediletos do mais conhecido intérprete de J. S. Bach, que não tocava para plateias nem deixava que pessoas encostassem nele. E o inventor da lâmpada era tão avoado que foi expulso da escola aos 8 anos e precisou estudar em casa.

J. K. Rowling, Ludwig Wittgenstein, Glenn Gould e Thomas Edison. Essas pessoas atingiram o sucesso não apesar de suas falhas, mas por causa delas. Certos padrões de personalidade e de ânimo considerados até mesmo transtornos mentais foram selecionados ao longo da evolução. Talvez essas adaptações não sejam tão vantajosas hoje quanto na época em que vivíamos fugindo de predadores, lutando com rivais e caçando presas. Mas tais peculiaridades preenchem os buracos criados pela normalidade da maioria das pessoas.

Desatentos conseguem captar ao mesmo tempo vários estímulos do ambiente e, com isso, fazer associações inesperadas, criativas. Outras pessoas não conseguem se interessar pelo que há à sua volta, mas exatamente por isso concentram-se dias a fio num só raciocínio e chegam a conclusões geniais. A ansiedade nos protege de pagar para ver uma ameaça, e a tristeza e o pessimismo nos fazem desistir de ilusões.

Portanto, se você tem amigos esquisitos, sinta-se sortudo. Você se acha meio diferente? Saiba por que isso pode ser bom.

DEPRESSÃO


Do ponto de vista clínico, não há nada de bom na depressão. Ela aprisiona no sofrimento pessoas que, paralisadas, não conseguem tomar atitudes que melhorariam sua vida. Isolam-se socialmente e tendem a remoer um problema. Às vezes, até a morte. Mas não. Até ela tem seu lado positivo. Para começar a entender qual é esse lado, temos que responder a uma pergunta: por quê, afinal, a depressão existe? Uma hipótese é a de que, conforme a civilização se desenvolveu, o homem alterou seu ambiente numa velocidade maior do que sua capacidade de adaptar-se a ele. Evoluímos para viver em grupos de 50 a 70 membros seguindo o ciclo do Sol, com a preocupação de obter alimento e procriar. Agora as coisas mudaram um pouco: temos de nos preocupar com contas, imagem, carreira... E muitos planos acabam frustrados - talvez mais do que a cabeça foi feita para aguentar. Pior: temos hábitos sedentários e, graças à luz artificial, fazemos nosso corpo funcionar no tempo do relógio, e não no do Sol. Tudo isso explicaria por que a prevalência da depressão tem aumentado. "É o mesmo que ocorre com nosso sistema cardiovascular, que não evoluiu para dar conta de alimentos gordurosos e pouco exercício", afirma Paul Gilbert, da Universidade de Derby, no Reino Unido.

Mas não é só isso. Outra corrente defende que a depressão existe porque foi talhada pela seleção natural, ou seja: porque oferece vantagens a seus portadores. Segundo o médico Randolph Nesse, da Universidade de Michigan, ela teria a mesma função da dor: garantir nossa sobrevivência diante de um risco. Quando um tecido está prestes a ser lesionado durante alguma atividade física, nossos neurônios transmitem um estímulo que nos impede de seguir além de nossos limites. A depressão funciona da mesma forma - mas, em vez de impedir fisicamente que você assuma um risco, ela atua no ânimo. A euforia e a depressão serviriam para regular nossas ações na busca por um objetivo. Um dos primeiros cientistas a pensar isso como uma adaptação foi o psicólogo americano Eric Klinger. Num artigo de 1975, ele analisou como o humor melhora conforme o progresso na busca de um objetivo. Isso motiva a pessoa a continuar a se esforçar e assumir riscos cada vez maiores. Quando esses esforços começam a falhar, uma piora no ânimo a faz voltar atrás, preservar suas reservas e reconsiderar opções. Essa piora, essa depressão leve, abre espaço para a introspecção e o autoexame necessários para tomar decisões difíceis, como desistir de objetivos inalcançáveis e buscar novas metas. Foi justamente o que observaram pesquisadores da Univerdidade da Colúmbia Britânica, no Canadá. Por 19 meses, eles acompanharam 97 adolescentes, analisando sua capacidade de deixar de lado objetivos muito difíceis (ou inalcançáveis), como virar um músico famoso, e abraçar outras metas, como dar duro para entrar numa boa faculdade. Enquanto isso, os pesquisadores também observaram sintomas de depressão nos voluntários. Conclusão: as pessoas com sintomas de depressão leve conseguiam abrir mão com mais facilidade de objetivos irrealistas. Elas davam menos murro em ponta de faca. E tendiam a sair da adolescência menos machucados, mais felizes, do que os esmurradores de lâminas. 

ANSIEDADE


Você está perdido no meio do nada. E ouve um ruído longínquo de animal. O bicho pode ser um tatu ou uma onça. Se você ficar apavorado e sair correndo até um lugar seguro antes que uma possível onça se aproxime, vai ter gasto 200 calorias em 10 minutos. Se não correr e depois for surpreendido por um leão, perderá seu corpinho inteiro - isto é, 200 mil calorias. Por esse raciocínio frio e puramente matemático, valeria a pena ter um ataque de pânico se a probabilidade de o ruído ser de um leão for maior que 1 em 1 000, conclui Randolph Nesse em sua empreitada em busca das causas evolutivas de transtornos mentais. Isso justifica por que é bom sentir medo mesmo quando a ameaça é pequena. E ansiedade é isto: medo de algo que não é necessariamente real. Mais: tal como o amor, ela é uma emoção. E uma emoção é um padrão de resposta diante de situações que podem trazer riscos ou oportunidades. A paixão ajuda a cortejar um parceiro, a raiva nos afasta de alguém quando desconfiamos que fomos traídos, e a ansiedade nos faz fugir ou lutar quando sentimos ameaçados. E isso acontece sem que pensemos. Quando bate a ansiedade, o fígado começa a liberar glicose, a frequência cardíaca aumenta, menos sangue circula pela pele e mais vai para os músculos. Assim, o corpo fica preparado para reagir - a animais, à altura, a trovões, à escuridão ou ao escrutínio público. E também a coisas mais sutis, como um trabalho insuportável ou um relacionamento falido. Ou seja: a ansiedade também pode funcionar como um alarme para que você mude de vida quando necessário. Um alarme que não temos como fingir não escutar.

PESSIMISMO


Para começar, precisamos de pessimistas por perto. Como diz o psicólogo americano Martin Seligman: "Os visionários, os planejadores, os desenvolvedores, todos eles precisam sonhar com coisas que ainda não existem, explorar fronteiras. Mas, se todas as pessoas forem otimistas, será um desastre", afirma. Qualquer empresa precisa de figuras que joguem a dura realidade sobre os otimistas: tesoureiros, vice-presidentes financeiros, engenheiros de segurança...

Esse realismo é coisa pequena se comparado com o pessimismo do filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860). Para ele, o otimismo é a causa de todo sofrimento existencial. Somos movidos pela vontade - um sentimento que nos leva a agir, assumir riscos e conquistar objetivos. Mas essa vontade é apenas uma parte de um ciclo inescapável de desilusões: dela vamos ao sucesso, então à frustração - e a uma nova vontade.

Mas qual é o remédio, então? Se livrar das vontades e passar o resto da vida na cama sem produzir mais nada? Claro que não. A filosofia do alemão não foi produzida para ser levada ao pé da letra. Mas essa visão seca joga luz no outro lado da moeda do pessimismo: o excesso de otimismo - propagandeado nas últimas décadas por toneladas de livros de autoajuda. O segredo por trás do otimismo exacerbado, do pensamento positivo desvairado, não tem nada de glorioso: ele é uma fonte de ansiedade. É o que concluíram os psicólogos John Lee e Joane Wood, da Universidade de Waterloo, no Canadá. Um estudo deles mostrou que pacientes com autoestima baixa tendem a piorar mais ainda quando são obrigados a pensar positivamente.

Na prática: é como se, ao repetir para si mesmo que você vai conseguir uma promoção no trabalho, por exemplo, isso só servisse para lembrar o quanto você está distante disso. A conclusão dos pesquisadores é que o melhor caminho é entender as razões do seu pessimismo e aí sim tomar providências. E que o pior é enterrar os pensamentos negativos sob uma camada de otimismo artificial. O filósofo britânico Roger Scruton vai além disso. Para ele, há algo pior do que o otimismo puro e simples: o "otimismo inescrupuloso". Aquelas utopias que levam populações inteiras a aceitar falácias e resistir à razão. O maior exemplo disso foi a ascensão do nazismo - um regime terrível, mas essencialmente otimista, tanto que deu origem à Segunda Guerra com a certeza inabalável da vitória. E qual a resposta de Scruton para esse otimismo inescrupuloso? O pessimismo, que, segundo ele, cria leis preparadas para os piores cenários. O melhor jeito de evitar o pior, enfim, é antever o pior.

TIMIDEZ


Escolas valorizam trabalho em grupo. Processos seletivos jogam candidatos em dinâmicas para identificar líderes natos. Empresas colocam seus funcionários em amplos escritórios sem divisórias e colhem ideias em brainstorms com uma dezena de pessoas - vale tudo, menos ter vergonha de falar besteira. Vivemos no mundo dos extrovertidos. Mas há pesquisadores que veem essa valorização do trabalho coletivo e da extroversão como um tiro no pé. "O mundo está desperdiçando o talento das pessoas tímidas", defende Susan Cain em seu livro Quiet (Quieto, sem versão brasileira), que compila estudos sobre o assunto.

Mas como a timidez pode ser positiva, afinal? Para responder a isso, precisamos esclarecer uma coisa - ser introvertido não significa ser fechado ao exterior. Muito pelo contrário. É ser sensível demais a ele. É o que tem demonstrado desde a década de 1960 o psicólogo Jerome Kagan. Em seu estudo mais importante, ele juntou 500 bebês de 4 meses em seu laboratório em Harvard para observar como reagiam quando estimulados com sons, imagens coloridas em movimento e cheiros. Então separou o grupo dos que reagiam muito - 20% deles - e o dos que reagiam pouco - 40%. Suas pesquisas anteriores lhe permitiram predizer o contrário do que a intuição sugere: os muito reativos se tornariam os futuros introvertidos. Aos 2, 4, 7 e 11 anos de idade, essas crianças voltaram ao laboratório de Kagan. As que haviam sido classificadas como muito reativas desenvolveram personalidades sérias, cuidadosas, enquanto as pouco reativas se tornaram mais relaxadas e autoconfiantes - a futura turma do fundão. Isso porque a amídala (estrutura do sistema límbico, responsável por reações instintivas, como apetite, libido e medo) é mais facilmente estimulada em crianças muito reativas. Ou seja, são mais alertas, mais sensíveis a estímulos novos. Suas pupilas se dilatam mais, suas cordas vocais ficam mais tensas, sua saliva tem mais cortisol - um hormônio do estresse - e seu batimento cardíaco se acelera mais. Um pouco de novidade já implica em vontade de se proteger. O lado negativo é que são mais vulneráveis à depressão e à ansiedade. Mas, ao mesmo tempo, podem ser mais empáticas, cuidadosas e cooperativas, desde que se sintam em sua zona de conforto. "Crianças muito reativas podem ter maior probabilidade para se tornar artistas, escritores, cientistas e pensadores, pois sua aversão a estímulos novos as faz passar mais tempo no ambiente familiar - e intelectualmente fértil - de sua própria cabeça", diz Cain. Um introvertido concentra a mente numa só atividade, em vez de dissipar energia em assuntos não relacionados ao trabalho - estudos do programador americano Tom DeMarco com 600 colegas mostram que o que define a produtividade no setor de TI não é o salário nem a experiência, mas o quão isolado é o ambiente de trabalho. A solidão também permite focar-se nas próprias falhas e treinar até chegar à perfeição. É esse tipo de prática que cria grandes atletas e virtuoses musicais.

AUTISMO


Ludwig Wittgeinstein, gênio da filosofia, começou a falar só aos 4 anos. Estudou com tutores particulares em sua casa, em Viena, até os 14 anos. Sem conseguir passar no vestibulinho do colegial, foi parar em 1903 na escola técnica de Linz (a mesma de Adolf Hitler, de quem não foi colega, pois o futuro ditador estava dois anos atrasado nos estudos). Mas ele simplesmente não se interessava pelos colegas. A solidão e a dislexia fizeram dele um perfeito alvo de bullying. "Nunca consegui expressar metade do que queria. Na verdade, não mais que um décimo", contou em suas memórias. 

Assim foi o jovem Wittgenstein. Mas sua excentricidade e o fato de ter revolucionado a filosofia no século 20 não são uma contradição, segundo o professor Michael Fitzgerald, do Trinity College, em Dublin. O psiquiatra vê em sua biografia sintomas que caracterizam a síndrome de Asperger - um tipo de autismo que, aliado a um intelecto avantajado, pode ser a base da genialidade.

Todo autista se foca obsessivamente em interesses muito específicos, tem comportamentos repetitivos e não se interessa em interagir com outras pessoas. Mas, enquanto a imagem mais comum é a da criança ensimesmada balançando para a frente e para trás, o espectro do autismo vai desde o atraso mental até o desenvolvimento linguístico e cognitivo completo - caso da síndrome de Asperger. Quem tem essa síndrome não se interessa em dividir experiências e emoções, tem padrões restritos, repetitivos e estereotipados de comportamento e de interesses e não abre mão de sua rotina. Isso torna o convívio difícil - mas pode ter um efeito colateral inesperado. 

"Muitas características da síndrome de Asperger aumentam a criatividade", escreve Fitzgerald em Autism and Creativity (Autismo e Criatividade). "Pessoas assim têm uma capacidade extraordinária para focar-se em um tópico por um longo período - dias, sem interrupção nem mesmo para as refeições. Não desistem diante de obstáculos." E não é apenas a concentração. A forma como entendem o mundo é diferente. Quando veem uma coisa, apreendem o detalhe para então sistematizar como funciona o geral - enquanto a maioria das pessoas apreende o geral para depois se afunilar em detalhes. Isso é um enorme ponto positivo para engenheiros, físicos, matemáticos, músicos.

Não que não haja um lado negativo. Portadores da síndrome de Asperger também têm dificuldade em aceitar e adotar regras sociais. Por isso, muitas vezes parecem ter personalidade infantil. Quando entrou para a faculdade de engenharia, Wittgenstein se fascinou pela obra Os Princípios da Matemática, de Bertrand Russell. Em 1911, mudou-se para a Universidade de Cambridge para estudar com Russell. Nos primeiros dias, chegava à sala do mestre à noite e seguia até a manhãzinha desdobrando suas ideias como que em um monólogo. Em 1926, quando terminou a defesa oral de sua tese de doutorado, deu um tapinha nos ombros dos examinadores. "Não se preocupem. Eu sei que vocês nunca conseguirão entender", disse. Wittgenstein começou então a dar aulas. Em seus seminários, era como se não houvesse uma audiência. Lutava com seus pensamentos e volta e meia caía em silêncios que nenhum estudante ousava interromper. Qualquer comentário que considerasse estúpido era retrucado brutalmente.

Para escrever Investigações Filosóficas, sua maior obra, ficou isolado numa cabana na Irlanda. Certa vez, o caseiro, que o havia visto conversando, perguntou-lhe se tivera uma boa companhia. A resposta foi: "Sim, falei muito com um ótimo amigo - eu mesmo". Numa carta a Bertrand Russell, escreveu: "Estar sozinho me faz um bem infinito, e não acho que agora poderia suportar a vida entre pessoas". O único grande prazer social do filósofo era discutir seus interesses - lógica, linguística e música. O mundo real pouco lhe importava.
O gene da engenharia


Todo engenheiro é um pouco autista. Essa é a conclusão, polêmica, do psiquiatra Simon Baron-Cohen, de Cambridge. Simon buscava identificar se estudantes com sintomas da síndrome de Asperger tinham predisposição a escolher alguma área específica de conhecimento. Fez um levantamento com graduandos de Cambridge e viu que alunos de exatas eram os mais propensos a ter os sintomas. O estudo fez barulho suficiente para que os pais de alunos de Eindhoven, na Holanda, entrassem em contato com ele depois de identificarem uma epidemia de autismo na cidade, conhecida pela concentração de empresas tecnológicas. Baron-Cohen comparou Eindhoven com Haarlem e Utrecht - que têm número semelhante de habitantes - e levantou a porcentagem de pessoas empregadas em tecnologia: 30, 16 e 17%, respectivamente. Depois, pesquisou a prevalência de autismo diagnosticado nas cidades: 229 por 10 mil crianças em Eindhoven, contra 84 e 57 nas outras. Para Baron-Cohen, isso é indício de que regiões onde pais têm empregos relacionados à "sistematização", como o da tecnologia da informação, terão uma taxa de autismo maior em suas crianças. É um resultado polêmico: indica que as pessoas naturalmente mais aptas para as ciências exatas carregam mais genes ligados ao autismo do que a média da população. E mais: é uma evidência de que essa aptidão seja, por si só, uma forma leve de autismo.

Einstein, o autista
O psiquiatra Michael Fitzgerald identificou traços da síndrome de Asperguer, uma forma moderada de autismo, em 42 personalidades históricas. Conheça algumas delas.

ALBERT EINSTEIN
"Meu senso de justiça e de responsabilidade social sempre se contrastou com minha falta de necessidade de contato direto com outras pessoas ou comunidades. Sou de fato um viajante solitário e nunca pertenci a meu país, à minha casa, aos meus amigos ou mesmo à minha família", escreveu o físico nos ensaios Como Vejo o Mundo.

GLENN GOULD
Um dos maiores pianistas do século 20 não deixava ninguém tocá-lo e, quando mais velho, só se comunicava com o resto do mundo por telefone ou por cartas. Aos 32 anos parou de tocar em público e se fechou no estúdio. Afinal, para ele tocar música era um ato tão íntimo que não dava para conciliá-lo com a audiência.

LEWIS CARROLL
O escritor americano Mark Twain chegou a dizer que Carroll, matemático autor de Alice no País das Maravilhas, era interessante "somente para olhar." Era o homem "mais estiloso e mais tímido" que já tinha visto. Não dava autógrafos nem deixava ser retratado - mesmo sendo ele mesmo um fotógrafo amador. "Minha aparência e minha escrita pertencem somente a mim", escreveu em uma carta.

FRACASSO


Quando destruímos um relacionamento, somos demitidos ou vivemos qualquer outra grande frustração nessa linha, não tem muito jeito: sentimos não só que um plano deu errado, mas que falhamos como pessoa.

Nossa mente, porém, evoluiu com uma defesa contra isso: ela ignora o que não quer saber. Uma área do cérebro chamada córtex cingulado anterior é ativada quando percebemos que alguma coisa deu errado. É como se fosse o mecanismo do "putz!". Com ele, excitamos mais uma região - o córtex pré-frontral dorso-lateral. Ele é o "censor" da mente, responsável por apagar determinado pensamento.

Esse mecanismo duplo - primeiro o "putz" e depois o "esquece" - permite editar nossa consciência conforme nossa vontade. Assim, conseguimos deixar para trás nossos fracassos.

Isso também acontece com cientistas. No início da década de 1990, Kevin Dunbar começou a observar os laboratórios de bioquímica da Universidade de Stanford. Descobriu que a metade dos dados obtidos nas pesquisas não batia com o que suas respectivas teorias previam. Os resultados às vezes simplesmente não faziam sentido. A reação então era típica: primeiro, os pesquisadores procuravam um bode espiatório - alguma enzima ou máquina devia não ter funcionado direito. Então repetia-se o experimento. Quando o resultado inesperado acontecia de novo, o experimento inteiro era considerado um fracasso e acabava arquivado. O que os pesquisadores não percebiam é que o mecanismo "putz, esquece" de sua mente os cegava. Dunbar então observou grupos de estudo com pesquisadores de diferentes áreas - biólogos, químicos e médicos. O fato de ter pessoas com um olhar de fora fez com que os bioquímicos, em vez de jogar fora o experimento, abrissem os olhos e repensassem suas teorias. Assim puderam reavaliar suas convicções e muitas vezes encontrar o caminho que funcionava. Moral da história: entender o porquê de um fracasso pode ser o melhor atalho para o sucesso.

É mais ou menos o que aconteceu com a britânica Joanne Rowling. Quando era adolescente, tudo o que seus pais esperavam dela era que não fosse pobre como eles. E tudo o que ela queria era ser escritora. Para arranjar um meio-termo entre seu desejo e o dos pais, fez faculdade de letras. Terminados os estudos, sua vida virou uma sucessão de fracassos. Tentou agradar os pais trabalhando num escritório, mas não suportava a chatice do dia a dia. Quando a mãe morreu, mudou-se para Portugal para dar aula de inglês. Em 3 anos, casou-se, teve uma filha e se divorciou. Desempregada e descasada, mudou-se para a Escócia, onde, deprimida, foi viver da ajuda financeira do Estado. Quando Joanne estava no ponto mais fundo de seu fracasso, começou a escrever um livro. Levou um "não" de 8 editoras - até conseguir uma que publicasse seu Harry Potter e a Pedra Filosofal. Adotou o nome artístico de J. K. Rowling e, em 3 anos, se tornaria a mulher mais rica do Reino Unido. E, para ela, o ingrediente de seu sucesso foi o fracasso. "O fracasso significa eliminar tudo o que não for essencial. Parei de fazer de conta para mim mesma que era uma pessoa diferente e comecei a direcionar toda minha energia em terminar o único trabalho que importava para mim", disse a uma plateia de graduandos de Harvard durante uma conferência do TED (instituição que organiza conferências sobre novas ideias). E arrematou: "Me senti liberta, porque meu maior medo já tinha acontecido. E ainda assim eu continuava viva".

DÉFICIT DE ATENÇÃO


De 3 a 5% das crianças em idade escolar são daquelas distraídas e agitadas, que perdem tudo, não conseguem fazer a lição, não esperam sua vez e agem sem pensar. Têm o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Quando crescem, os sintomas diminuem, mas os problemas, não. Podem até piorar - afinal, as responsabilidades são outras. O que se esquece não é mais a lição de casa, mas prazos e reuniões. Trabalhos são abandonados pela metade, ordens são ignoradas. A impulsividade pode custar o emprego ou o relacionamento. Por que isso é tão comum? A resposta é semelhante à da ansiedade e da depressão - essa característica já foi uma vantagem adaptativa, até que a cultura e o ambiente mudaram. Em sociedades nômades, quem tem foco de atenção disperso é capaz de cuidar melhor de seu gado, explorar áreas desconhecidas e ficar alerta para ameaças. Dan Eisenberg, da Northwestern University, EUA, observou em tribos africanas nômades e sedentárias. Entre os nômades, os que tinham o alelo 7R (ligado ao TDAH) eram mais bem nutridos do que os sem. Já nas sedentárias, acontecia o contrário. Em outras palavras, conforme o homem se estabeleceu num só lugar e começou a viver de atividades que exigem mais foco, a atenção dispersa virou desvantagem. Mas não tanto. Os mesmos genes que hoje estão associados ao risco são responsáveis por revoluções nas artes, ciência e exploração, acredita o psiquiatra Michael Fitzgerald, do Trinity College. Michael, que já tinha procurado traços de autismo na biografia de personalidades, não demorou para fazer o mesmo com o TDAH. Segundo ele, sintomas de déficit de atenção estão presentes em Thomas Edison, Oscar Wilde, Kurt Cobain (que foi diagnosticado quando criança) e até em Che Guevara. Quem tem a cabeça na Lua pode encontrar lá em cima coisas que pessoas com o pé no chão não veem.
Superávit de criatividade

Fonte: Super Interessante

Quem tem TDAH é ótimo em brainstorms, pois não se sente inibido para dar ideias aparentemente estranhas. As psicólogas americanas Holly White e Priti Shah testaram um grupo de 90 universitários divididos entre os com e os sem TDAH. Elas pediram para que cada grupo propusesse usos para um tijolo e para um balde em 2 minutos. Resultado: os desatentos se deram melhor no número de usos, na diversidade dele e, principalmente, na originalidade. Entre as soluções do grupo com TDAH estavam usar o tijolo para escrever em superfícies como concreto ou o balde como guitarra - se você adicionar cordas e um pau ali. Só faltava verificar isso no mundo real. As pesquisadoras, então, fizeram isso num segundo estudo, de 2011. Deram a 60 universitários um questionário sobre quais seus êxitos em 10 áreas criativas: artes cênicas, humor, música... Os desatentos tiveram níveis mais altos em todas as categorias.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

5 dicas para evitar momentos constrangedores em conversas



Conversar com pessoas que você não conhece muito bem pode resultar em situações embaraçosas. Na ânsia de puxar assunto, você pode acabar sendo indelicado e criando um clima constrangedor, até com pessoas mais próximas. Confira dicas para escapar de momentos como esses e manter conversas interessantes:

Faça (e aceite) elogios


Todo mundo que já recebeu algum elogio sabe como isso nos faz sentir bem. Elogiar o trabalho ou características de alguém é uma boa maneira de quebrar o gelo e criar um clima positivo durante uma conversa.

É importante que você seja honesto, sem falsas bajulações. Seja objetivo, falando sobre qualidades que você admira em uma pessoa, por exemplo. Outra dica é pedir conselhos, desde assuntos profissionais até sugestões de livros. Assim, a pessoa vai sentir que você se importa com o que ela pensa. Isso transmite confiança e pode até favorecer o início de uma amizade.

De acordo com uma pesquisa veiculada no periódico Journal of Marketing Research, você não precisa nem fazer elogios realmente sinceros. Quando as pessoas recebem congratulações, elas as aceitam, mesmo que não sejam sinceras. Nessas situações, as pessoas se sentem bem imediatamente com elas mesmas e com a conversa em geral. Por isso elogiar (sem excessos, claro) pode ser uma boa ideia.

Quando você estiver do outro lado, recebendo elogios, a dica geral é: aceite e agradeça. Um simples “obrigado” é sempre a melhor pedida. É normal se sentir desconfortável nesses casos, mas aceitar elogios não torna uma pessoa convencida. Afinal, isso não é questão de louvar a si mesmo – foi outra pessoa que falou bem de você. É muito mais educado aceitar e agradecer um julgamento positivo do que contradizer quem quis ser gentil com você.

Escute


Você já deve ter ouvido alguma frase do tipo: “temos dois ouvidos e uma boca para ouvir mais e falar menos”. Apesar de ser um clichê, para manter boas conversas é realmente necessário ser um bom ouvinte. E para isso não basta apenas sentar e ouvir a pessoa falar sem parar. Você tem que responder de maneira que possa demonstrar que está contribuindo com a conversa e interessado no que seu colega disse.

Os ouvintes ativos não só ouvem, mas também fazem comentários que mostram que estão prestando atenção, retomam temas chaves da conversa e fazem perguntas que movem a discussão. De acordo com a revista Forbes, a escuta ativa é capturar e entender as mensagens que o outro está enviando, com respostas verbais e não verbais. O tom de voz e expressões faciais são exemplos de mensagens não verbais que mostram que você está escutando a outra pessoa de maneira ativa e interessada.

Faça as perguntas certas


Corte o “será que chove?” e “e os namorados?” do vocabulário. Especialistas afirmam que a maioria das pessoas fazem péssimas perguntas para puxar assunto. Evite clássicos estereotipados (“o que você faz da vida?”) e abuse de perguntas que podem ampliar o assunto como “onde”, “quem” e “por quê”.

Outro grande erro é não parar de falar sobre você mesmo. Isso é bem chato. Faça mais perguntas para saber a opinião da outra pessoa. Perguntar o que uma pessoa faz para se divertir pode dizer muito mais sobre ela do que se você perguntasse o que ela faz no trabalho.

Seja confiante


É comum ler matérias ou ouvir pessoas falando que você deve ser você mesmo. Mas um pouquinho de atuação em certas conversas pode ser bom. Calma; você não precisa ser outra pessoa. Mas caso seja tímido ou esteja inseguro, tente se mostrar mais confiante do que você realmente é. Até mesmo a linguagem corporal pode mostrar que você sabe do que está falando, o que passa uma boa impressão para os ouvintes.

De acordo com uma pesquisa publicada na revista Social Psychological & Personality Science, se apresentar de uma maneira positiva em conversas cria uma impressão boa da sua personalidade – mesmo que seja um pouco de atuação. E a melhor parte é que, com essa pequena atuação, você realmente vai se sentir mais confiante e a conversa será mais interessante. Mas não exagere: você deve projetar confiança, não parecer uma pessoa convencida.

Não domine as conversas


Ninguém gosta de gente que domina as conversas e não para de falar. Mesmo assim, é difícil de saber quando estamos fazendo isso – principalmente em momentos de nervosismo ou empolgação com um assunto. Se você acha que não vai parar de falar sobre seu tema preferido, evite o assunto em conversas. E se você estiver do outro lado, conversando com uma pessoa que mal te deixa falar, a dica é começar a dar sua opinião e falar sobre si mesmo para ver se a outra pessoa percebe que está dominando o diálogo. 

Fonte: Hypescience.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Transtornos de personalidades em personagens históricos e fictícios

O que há em comum entre a exibida Scarlet O’Hara, o paranoico Stálin e o gênio violento Caravaggio? Eles formam o exército de pessoas com transtornos de personalidade. 
   


Não, não é que o funcionamento da cabeça deles esteja prejudicado, como na esquizofrenia e na depressão. O problema aqui é seu padrão de comportamento. Para a psiquiatria, por exemplo, não é normal pensar só em si, fazer de tudo para chamar a atenção ou desrespeitar toda norma social. Embora o paciente possa até não achar nenhum problema em seu jeitão de ser, seus atos podem prejudicar muito as pessoas à sua volta. 

Mas é preciso ir com calma. Não vá sair por aí bancando o psiquiatra. Seu chefe pode ser um pouco metido sem que seja diagnosticado como narcisista. Você pode ser tímido ou um grande animador de baladas sem ser esquivo ou histriônico. E, mesmo que seja bem estourado, vai provavelmente estar estar muito longe de ser um psicopata sanguinolento. O que define o comportamento como doença é que ele acarrete problemas concretos para si e para os outros - como no caso das pessoas e dos personagens que mostraremos nas páginas seguintes.
Caravaggio o psicopata 



Infância briguenta, ficha policial gorda, assassinatos, dívidas, fama, título de nobreza e morte misteriosa. Sob a máscara de gênio da pintura barroca italiana e queridinho da Igreja, vivia um violento crápula, que, como 3% da população em geral, se encaixava no perfil de um psicopata. 


Caravaggio é tido como um dos maiores pintores italianos, reconhecido por introduzir uma nova estética naturalista e barroca, dominada por excessos e contrastes. Ótimo. Só que na época em que viveu, nos idos do século 16, ele era mais conhecido por ignorar completamente a vida alheia. Segundo suas biografias, o gênio da pintura tinha todos os traços do transtorno de personalidade antissocial - a famosa psicopatia. 

Arrogantes, mentirosos e irresistíveis. O que define o psicopata é a incapacidade de sentir emoções, de se colocar no lugar dos outros e internalizar regras sociais - uma mistura desastrosa que começa desde a infância e até hoje não tem tratamento. Sem sentimentos para distraí-los, psicopatas caem facilmente no tédio e, para combater isso, procuram viver impulsivamente grandes aventuras à custa dos outros - do seu dinheiro, do seu sexo ou mesmo da sua vida. 

Para eles, o remorso é apenas uma curiosa fraqueza alheia que serve de ferramenta para suas manipulações. Não é de surpreender que 20% da população carcerária seja psicopata. Mas apenas a minoria dessas pessoas sem consciência são os famosos matadores em série. Mais comuns são os canalhas do dia a dia - falsários, amantes canalhas, amigos parasitários ou escroques tão malvados quanto talentosos, como Caravaggio. 

Psicopatas não têm ansiedade nem medo e, por isso, conseguem mentir sem tremer nas pontas. Analisam as pessoas até descobrir quais são os seus pontos fracos. Assim, sempre conseguem jogar uma boa lábia e, como camaleões sociais, parecer a pessoa ideal, seja na hora de conquistar uma rapariga (ou um moçoilo), seja para tornar-se pintor papal. Depois de dar o bote, vivem como parasitas ou como predadores. Compromisso, só com o seu próprio prazer. 

De que o pintor era um prodígio, ninguém duvida. O gênio começou a trabalhar com apenas 13 anos, como aprendiz de um pintor em Milão. Adolescente, tinha já perdido pai e mãe, mas não foi exatamente de tristeza que sofreu. Caravaggio era tão briguento que logo vendeu os bens da família para pagar fianças. Na bancarrota aos 18 anos, decidiu tentar a sorte em Roma. E, para ser visto como um menino prodígio, não economizou na mentira. Dizia ter dois anos a menos. Logo isso atraiu um mecenas, que o sustentou para pintar quadros provocantes (com insinuantes meninos seminus). Aos 25, se deu bem de novo: começou a pintar para a Igreja e logo se tornaria o artista mais conhecido de Roma - nada mal para psicopatas, caracterizados pelo ego inflado e pela necessidade de status. 

Só que outra característica desse transtorno é o vício em perigo. Mesmo em seus quadros religiosos, Caravaggio usava meretrizes para representar a virgem Maria e ladrões para os santos. Imagine sua satisfação ao saber que a corte papal estava recebendo a pintura de uma prostituta para ser adorada como santa. Caravaggio não se casou nem teve filhos - um escândalo para a época. Atrasava a entrega dos quadros e recebia multas. Mas era esperto: sempre que se metia em briga, tinha contatos para sair da prisão. 

Certa vez, alguém denunciou que suas obras para a Igreja eram impuras. Caravaggio desferiu um golpe de adaga no infeliz. Quase matou outro por ter dormido com a sua prostituta preferida. Num jantar, o garçom não lhe deu suficiente atenção e ele lhe jogou um prato de alcachofras fervente na cara. E as coisas pioraram. Um dia quebrou a cabeça de um sargento. Mas jurou no julgamento que "uma pedra caíra de um telhado". Não demorou muito tempo na prisão: subornou os guardiões e fugiu com a ajuda de um cardeal. Até que assassinou um homem a punhaladas numa briga. 

Foi condenado à pena capital, mas fugiu para Malta, onde, para pôr a cereja em sua carreira psicopática, foi condecorado com o título de cavaleiro da Sagrada Ordem dos Hospitalários. Claro, se envolveu numa briga, foi preso, fugiu... até que, aos 39 anos, apareceu morto numa praia. Sua biografia já alcançara o estrelato. Para o bem e para o mal.

O ANTISSOCIAL 



• Não consegue seguir normas sociais e acaba cometendo crimes. 

• Engana os outros para tirar vantagem pessoal ou prazer. 

• Não consegue trabalhar com planos de longo prazo. 

• É estourado e parte facilmente para a agressão física. 

• Despreza a sua segurança e a das outras pessoas. 

• Não tem responsabilidade para manter um emprego nem honrar pagamentos. 

• Não sente remorso, mesmo quando fere, maltrata ou rouba alguém. 

• Necessariamente teve transtorno de conduta antes dos 15 anos.
O que ele pensa: Os outros estão aí para ser explorados.


Mao - o grandioso 



Culto pessoal, bajuladores de plantão e uma teimosia que causou pelo menos 30 milhões de mortes. Saiba como o Grande Timoneiro levou a China a tremer diante da sua imagem. 

Era uma vez na mitologia grega um belo homem chamado Narciso, que passara a vida e a morte admirando sua imagem num espelho d’água. É daí que vem o nome do transtorno de personalidade narcisista. Mas, longe dessa suposta paz, o narcisista não suspira. Age ativamente para que seja considerado o melhor em tudo, sempre. Mesmo que, para construir a imagem de Deus na terra, sacrifique milhões de pessoas de fome. Seu nome deve ficar na história - como fulgura o mausoléu de Mao Tsé-Tung em Pequim, no coração da Praça da Paz Celestial. 

"A estrutura psíquica de Mao era produto de sua inabilidade em manter o equilíbrio narcisista regulando sua autoestima", escreve o historiador Michael Sheng. Isso é típico de narcisistas, que representam 1% da população. Eles acreditam ser seres superiores e, para comprovar essa crença, buscam reconhecimento, por sua influência, sua inteligência, sua grana ou sua beleza. Por isso, usam os outros como objeto de distinção. Gente comum é automaticamente descartada - mas terão bastante valor aquelas que puderem servi-lo ou admirá-lo. Não surpreende que Mao promovesse bajuladores. Na primeira vez que voou de avião, seu piloto passou a viagem tecendo-lhe elogios. Depois, foi alçado ao topo da aviação militar chinesa. 

O poder é essencial para o narcisista. E, para demonstrar seu cacife, altera limites, toma decisões por conta própria, controla os outros e cria exceções para regras. Ele está acima das leis, mesmo as da natureza. Afinal, quem se julga tão especial acha que riscos são coisa pequena - desde ultrapassar o limite até conduzir um país a uma catástrofe. 

Foi o que Mao fez ao promover o Grande Salto Adiante, uma polêmica reforma agrícola que, entre 1958 e 1960, matou ao menos 30 milhões de pessoas de fome. Ainda que soubesse das pessoas caindo feito moscas no campo, Mao nutria a fantasia de uma China feita por suas mãos. Estava tão inebriado pelo sucesso de sua imagem que todo o resto era detalhe - inclusive as mortes em massa. "E as pessoas mantinham seu culto justamente por estarem necessitadas de um ideal pelo qual viverem", diz Sheng. 

Mao dominou com mão de ferro mais de um quinto da população do planeta entre 1949 e 1976. Foi o idealizador da Revolução Cultural, que expurgou "inimigos" do regime aos milhares e levou o país ao caos. Mas a China sobreviveu e ficou mais forte após sua morte. Aos poucos, a nação deixou de ser seu espelho.
O narcisista 



• Exagera sua importância e espera ser reconhecido à altura. 

• Vive fantasias de sucesso, poder e inteligência sem limite, ou amor ideal. 

• Acha que é especial e único, e que só pode se associar a pessoas tão ou mais especiais. 

• Exige que o admirem. 

• Espera irracionalmente ser tratado de forma favorável ou obedecido automaticamente. 

• Tira vantagem dos outros para atingir seus objetivos. 

• Reluta em se identificar com sentimentos e necessidades alheios. 

• Vive com inveja dos outros ou acredita ser alvo da inveja alheia. 

• Tem comportamentos e atitudes arrogantes e insolentes. 


O que ele pensa: Eu sou especial.

Stálin - o desconfiado 



Um ditador mata muitos inimigos. Mas um ditador paranoico mata também os amigos - como Stálin, que executou um terço dos 3 milhões de membros do Partido Comunista. 
Que atire a primeira pedra quem nunca desconfiou de alguém sem razão alguma. Agora imagine se essa sensação durasse o tempo todo, na mente de um ditador sanguinário com armas atômicas e um exército de milhões de soldados. Josef Vissarionovich Dzhugashvili - ou Stálin, para os 3 milhões de pessoas assassinadas por causa dele - era de fato mais que desconfiado. Segundo a psicóloga política Rose McDermott, o que ele tinha era transtorno de personalidade paranoide. 

O paranoico suspeita sempre que alguém o engana. Por achar que tudo pode ser usado contra si, ele testa sempre a lealdade dos colegas e parceiros e luta para não deixar decisão alguma na mão deles. É o que explica que o líder comunista expurgasse todo o seu gabinete sempre que suspeitasse que alguém pensasse em traí-lo. Afinal, que melhor maneira de matar a dúvida que eliminá-la pela raiz? 

De acordo com a Associação Americana de Psiquiatria, de 0,5 a 2,5% das pessoas são paranoides. Seu transtorno pode manifestar-se na infância, mas as coisas ficam sérias no começo da idade adulta. É a história do jovem excêntrico, crítico, frio, que prefere ficar sozinho. Não é que ele odeie as pessoas à sua volta: apenas as culpa por tudo e não confia em ninguém. Por fim, torna-se autossuficiente e usa o poder para que ninguém possa atacá-lo. 

Toda a vida de Stálin serviu para que ele galgasse e mantivesse mais poder. Pena de quem cruzasse seu caminho: sua única incerteza era: "Prender ou executar?" É claro que não era nada pessoal. A explicação de Stálin para mandar milhares de pessoas para campos de trabalho forçado na Sibéria, onde muitos morriam de frio, fome e esgotamento, eram sempre questões "políticas" - não importava se a desconfiança viesse de uma denúncia, de um sonho, de um estalo. 

Afinal, o paranoico vê ameaças ocultas em acontecimentos cotidianos. É um rancoroso implacável: qualquer insulto, qualquer deslize fica amarzenado na memória como prova de um ataque. E tudo acaba sendo voltado à sua pessoa: um comentário pode ganhar uma dimensão de ataque grave, e o paranoico acabará reagindo com outro, geralmente rápido, impulsivo e desproporcional. 

Apesar de o paranoico não ser nenhuma flor de pessoa, seu poder frequentemente atrai um grupo a seu redor. Stálin era pródigo em cercar-se de assassinos fiéis, que não hesitavam em torturar sua própria família. Ganhou notoriedade por mandar matar até esposas de seus colaboradores. Assim se tornou o líder de um culto paranoico, misto de adoração e medo, que durou 3 décadas e custou a vida de milhões, até que morresse, em 1953, de infarto. Estava no auge de seu transtorno, louquinho da Silva.
O paranoide 



• Acha que é explorado, maltratado ou enganado, mesmo sem provas. 

• Vive preocupado com a lealdade de amigos ou colegas. 

• Reluta em confiar nos outros, pois acha que o que diz vai ser usado contra si. 

• Vê ameaças ocultas mesmo em elogios ou acontecimentos bons. 

• Guarda rancores persistentes. 

• Vê ataques a si onde não tem, e contra-ataca rapidamente. 

• Suspeita recorrentemente da fidelidade do parceiro sexual. 


O que ele pensa: As pessoas são perigosas.

Scarlett O’hara -  a exibida 



Nos tempos das cavernas, uns seduziam os outros para reproduzir-se ou conseguir favorzinhos. Mas, quando alguém traz essa estratégia primitiva para o mundo de hoje, o resultado é um dramalhão sem fim. 

Quem nunca ouviu falar de Scarlett O’Hara, a heroína mais egoísta da história do cinema, que, em ...E o Vento Levou, enfrentou uma guerra civil só para chamar a atenção do homem que queria? Scarlett tem as características do transtorno de personalidade histriônica, que ocorre entre 2 e 3% da população. A pessoa vive para ser o centro das atenções. Sempre que isso não acontece, sente-se preterida e corre atrás do prejuízo - mesmo que tenha de fazer uma cena. Geralmente animada, divertida, sagaz, pode ser muito sedutora. Na verdade, tenta seduzir todo mundo. Como Scarlett. 

Menina mimada de família rica, adorada por todos na sua cidadezinha natal, no sul dos EUA, Scarlett nasceu na época da Guerra da Secessão (1861-1865). Mas sua guerra é outra: conquistar o único homem que não a amava. Scarlett tem duas irmãs, cuja beleza fica esquecida perto da sua. Seu vestido é mais bonito, sua voz é mais alta, seu olhar, mais feminino. Sua presença conquista mulheres pela falsa simpatia e os homens pela beleza. Minutos depois, lá está Scarlett, cercada por mancebos, que deixam as esposas para falar com ela. É essa a atenção que ela busca, não importa o resto. 

Daí o transtorno ser atribuído mais frequentemente a mulheres: são características como a sensualidade exacerbada - menos aceita em mulheres nas sociedades conservadoras -, as mais visíveis num histriônico. Sempre que não consegue algo, Scarlett parte para a sedução. Um homem que faz isso é o "machão". Já uma mulher... Por outro lado, é mais comum a sociedade aceitar mulheres dramáticas que homens - e a teatralidade é um dos quesitos-chave do transtorno. Scarlett, se chora, não hesita em soluçar, mas olhando de soslaio para garantir o efeito da cena. 

Altamente influenciáveis, os histriônicos acreditam em falsas realidades se elas forem ao encontro do que desejam. Não à toa, Scarlett, ao longo do filme, acaba se convencendo de que seus esforços finalmente conseguem seduzir o amado Ashley Wilkes. E o mais importante: o histriônico consegue sempre seu espaço - mesmo que seja no coração dos românticos, que ignoram todas as maldades e atropelos de Scarlett. Afinal, quem não gosta de Scarlett O’Hara, a menina que, após ser enfermeira na guerra, promete nunca mais passar fome?
O HISTRIÂNICO 



• Fica incomodado quando não é o centro das atenções. 

• Interage com os outros de forma sedutora. 

• Expressa mudanças rápidas e superficiais nas emoções. 

• Usa o tempo todo a aparência física para chamar a atenção. 

• Fala de forma muito impressionista e carente de detalhes. 

• É teatral demais. 

• É facilmente influenciado pelos outros ou pelas circunstâncias. 

• Acha que seus relacionamentos são mais íntimos do que de fato são. 


O que ele pensa: Preciso impressionar.


Darth Vader -  o instável 



O vingador intergalático era desajustado em tudo: relacionamentos, autoimagem, afeto, comportamento. E teve o mesmo fim que 10% dos com transtorno borderline - o suicídio. 

Há muito tempo, numa galáxia muito distante, um borderline foi responsável por uma saga sem precedentes, que mexeu com repúblicas e impérios e concretizou a maior das profecias: acabar com a raça dos siths. Um artigo publicado na revista Psychiatry Research afirma: Anakin Skywalker, o herói-vilão de Guerra nas Estrelas, atende a 6 dos 9 critérios para o transtorno de personalidade borderline ("limítrofe", em inglês). E o artigo vai além: o fato de o distúrbio ser mais comum entre adolescentes ajudaria a explicar o sucesso da saga. 

O paciente oscila rapidamente entre ver tudo preto e tudo branco: ora adora, ora detesta alguém; ora está muito satisfeito, ora entra em desespero e é tomado pela raiva. Embora seja fácil fazer confusão, isso é bastante diferente do transtorno bipolar, marcado por um episódio de depressão aqui e outro de euforia ali, intercalado por períodos normais. 

O borderline exige que as pessoas estejam sempre lá para lhe darem atenção. Uma hora está carente. Depois, vira um vingador inveterado. Para completar, pode ter um sentimento crônico de vazio, ficar terrivelmente entediado e querer morrer. Isso exaure parentes, amigos e colegas, bloqueia talentos e, por fim, leva 10% ao suicídio. 

Nem mesmo a Força - a energia existente em todas as coisas vivas e que tão bem aceitou Anakin na sua transformação de garotinho difícil no mais poderoso cavaleiro jedi de todos os tempos - conseguiu controlar sua instabilidade. Desde a infância, garoto lá pelas bandas desérticas de Tatooine, Anakin era um impulsivo inveterado e tinha grande dificuldade para controlar sua raiva, alternando constantemente sentimentos de idealização e depreciação. Quando algo que queria era ameaçado, ou ferido, sai de perto. Tanto que, logo após a morte de sua mãe, Anakin teve de exterminar toda uma tribo de tuskans. 

Só que, mais do que impulsividade e instabilidade, o que marca o borderline é a crise de identidade. O tempo todo Anakin se questionava sobre quem realmente era. E, ao longo da saga, isso fica mais grave. Anakin migra para as forças do mal, vira Darth Vader e só deixa de encarnar o perfil de maior vilão das galáxias ao ver o filho agonizar na sua frente. É quando novamente troca as trevas pela luz e decide morrer como bom moço. Quer mais crise de personalidade?
O borderline 



• Esforça-se freneticamente para não ser abandonado. 

• Ora idealiza as pessoas, ora as desvaloriza. 

• Tem imagem de si muito instável. 

• Comporta-se impulsivamente: gasta sem parar, abusa de substâncias, dirige imprudentemente... 

• Faz ameaças ou gestos suicidas ou automutilantes. 

• É afetivamente instável. 

• Sente-se sempre vazio. 

• Não consegue controlar a raiva. 

• Tem ideias paranoicas.
Melvin - o perfeccionista 

Rabugento, moralista, cabeça-dura e workaholic. O personagem de Jack Nicholson em Melhor Impossível tornou-se sinônimo de personalidade compulsiva - presente em 1% das pessoas. 

Melvin Udall está concentrado, escrevendo em sua máquina um trecho de mais um livro, enquanto repete em voz alta, quase com carinho, cada nova sentença. 

"E finalmente ela conseguiu definir amor. O amor era"... mas eis que alguém bate na porta. Udall ignora. O trabalho é tudo o que importa. "O amor era..." - e lá vêm novas batidas. Ele se levanta, xingando, e escurraça o pobre Simon. "Eu trabalho em casa. E estou sempre trabalhando. Então nunca, nunca me interrompa, ok? Nem se houver fogo!" 

Há uma explicação para o comportamento do escritor rabugento de Melhor Impossível: transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva, ou TPOC. Udall é tão preocupado com sua sagrada rotina que esquece o porquê do que faz. Não que ele sofra com isso: o que o deixa ansioso é a possibilidade remota de ter de mudar um milímetro na série de regras que constroem seu cotidiano. 

O que faz sua mania virar um transtorno? Bem, as consequências. Seu perfeccionismo interfere no resultado de suas tarefas. Ele perde amigos, relacionamentos amorosos degringolam, já que sua sacrossanta rotina acaba sendo mais importante que a mulher por quem se apaixonou. No controle de tudo, Udall fica tirânico, desagradável, insuportável. O indivíduo com personalidade obsessivo-compulsiva é tão apegado a regras que vira um moralista dos costumes, intolerante com as diferenças. Udall tem tantos preconceitos que vira uma caricatura. 

Mas aí vale uma resalva. O TPOC é diferente do Transtorno Obsessivo-Compulsivo - o famoso TOC. As obsessões do TOC causam sofrimento para a pessoa - como quem toma vários banhos por dia e ainda assim não consegue sentir-se limpo ou verifica inúmeras vezes a torneira. Quem tem TOC pode ficar paralisado pela mania, sofrer com suas causas, entrar em desespero. Já no TPOC, segue suas regras por puro perfeccionismo. Quem tem que mudar são as pessoas ao seu redor. 

Claro, muitas vezes o TPOC e TOC acontecem ao mesmo tempo. É o caso de Udall, incapaz de usar o mesmo sabonete duas vezes. Como boa parte dos transtornos de personalidade, o TPOC é tratado com psicoterapia e, às vezes, antidepressivos. A pessoa não se cura, mas consegue diminuir a rigidez de seu comportamento. Como Udall fez, ao aceitar as determinações do psiquiatra e tomar remédios. Claro, toda concessão é um troféu. "Isso é um elogio a você", diz ele a Carol, por quem está interessado. "Você me faz querer ser um homem melhor."
O obsessivo-compulsivo 



• Preocupa-se com tantos detalhes, regras, listas, ordens e organização que perde o propósito do que faz. 

• Deixa de concluir tarefas por causa do perfeccionismo. 

• Devota-se demais ao trabalho e deixa o lazer e as amizades de lado. 

• É inflexível em questões morais. 

• Não consegue se desfazer de objetos inúteis, mesmo sem valor sentimental. 

• Reluta em delegar tarefas aos outros, a não ser que se submetam a suas regras. 

• É pão-duro. 

• É rígido e teimoso. 


O que ele pensa: Não posso errar.
Zelig -  o tímido 



Entre a possibilidade de ser rejeitado e a solidão, não há dúvida: o paciente com transtorno de personalidade esquiva prefere ficar sozinho, mesmo que isso signifique ainda mais tristeza e ansiedade. 
Ele era um cara tão tímido, mas tão tímido e ansiava tanto, mas tanto pela aprovação das pessoas que acabava se transformando nelas. Era um camaleão humano, como ficou conhecido entre os fãs do cineasta americano Woody Allen, que criou o personagem mais tímido de todos os tempos: Zelig. Segundo o manual de psicologia de Michel Hersen, professor da Universidade do Pacífico, EUA, Zelig teria transtorno de personalidade esquiva - se não fosse uma ficção. 

No filme, Zelig acaba conhecendo uma psiquiatra, que tenta ajudá-lo. Durante sessões de terapia com ajuda de hipnose, a doutora Fletcher descobre que Zelig tem a autoestima tão baixa e sente uma necessidade tão brutal de ser aceito e de não ser criticado por ser quem realmente é que acaba moldando seu corpo e personalidade de acordo com quem o cerca. Numa mesma festa, Zelig conversa com aristocratas numa roda e assume seu sotaque, suas roupas, suas opiniões, para logo, na cozinha, estar entre os empregados, falando mal dos aristocratas, num sotaque diferente. Na presença de obesos, Zelig fica obeso também. E mesmo entre nazistas, Zelig, personagem judeu interpretado pelo judeu Woody Allen, acaba parecendo com um discípulo de Hitler. Claro, é uma premissa fantástica e irreal, que brinca com o realismo para criar humor, mas que serve de paródia para um transtorno sério, que atinge entre 0,5 e 1% das pessoas em geral. 

Quer ver um esquivo sair correndo? Peça então para ele assumir um papel em público, para liderar um projeto, para fazer um discurso. Ele é um tímido incondicional, um cara que sofre de uma verdadeira fobia social. Assim acabará evitando atividades, mesmo empregos, em que tenha de ter muito contato interpessoal. Ainda que receba uma promoção com um salário bem maior, ele preferirá posições abaixo de suas capacidades para não se expor à desaprovação alheia. 

O esquivo parece o cara desinteressado nos outros, que dificilmente faz novos amigos. Isso porque ele só se envolve com quem já conhece e, mesmo com amigos, nunca se abre. As críticas são seu verdadeiro calvário. Sente-se inadequado em eventos sociais, já que vê a si mesmo como um desengonçado, um indivíduo sem atrativos pessoais, um perdedor. É o cara que sempre pula fora de novos projetos só para não passar vergonha. Acabam "desaparecendo". Daí a grande sacada de Woody Allen. Zelig resolve inconscientemente sua intensa fobia social tornando-se invisível, ao assumir a personsalidade das outras pessoas.
O ESQUIVO 


• Foge de trabalhos que exijam o contato com pessoas. 

• Só se envolve se tiver certeza que a outra pessoa gosta dele. 

• É reservado nos relacionamentos íntimos por medo de passar vergonha. 

• Preocupa-se com críticas e rejeições em situações sociais. 

• Sente-se inadequado em ambientes novos. 

• Vê a si mesmo como socialmente inepto, sem atrativos pessoais. 

• É extraordinariamente reticente em assumir riscos pessoais ou envolver-se em quaisquer novas atividades. 


O que ele pensa: Eu posso me machucar.