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segunda-feira, 12 de agosto de 2013

A ciência por trás da aprendizagem

Toda vez que você aprende algo novo, seu cérebro se altera de uma forma bastante substancial. Porém, os benefícios da aprendizagem se estendem para além do cérebro. Já foi provado que aprender uma nova habilidade possui uma sorte de benefícios inesperados, incluindo a melhoria da memória e da inteligência verbal, além de aumentar as competências linguísticas da pessoa.

Da mesma forma, à medida que você vai aprendendo uma nova habilidade, essa habilidade realmente fica mais fácil para você. A pesquisadora Karene Booker, da Universidade de Cornell, localizada no estado de Nova York, EUA, explica o que acontece: “Em um experimento, observamos que o treinamento resulta em diminuição da atividade em regiões do cérebro envolvidas no controle de esforço e de atenção”, conta.

No entanto, ela relata que, após os exercícios, foi identificado um aumento da atividade em locais do cérebro responsáveis pela auto-reflexão, incluindo o planejamento futuro ou nossos sonhos cotidianos “Assim, a habilidade está associada com o aumento da atividade em áreas que não estão envolvidas no desempenho de habilidades, e essa mudança pode ser detectada em grande escala no cérebro”, diz.

Em outras palavras, quanto mais experiente você se torna em uma habilidade, menos trabalho seu cérebro tem que fazer. Com o tempo, a habilidade se torna automática e você não precisa pensar sobre o que você está fazendo. Isso ocorre porque seu cérebro realmente se reforça com o tempo para realizar da melhor forma possível tal habilidade. Foi assim quando você começou a falar, a dirigir e até nas primeiras aulas de inglês. Agora tudo parece mais fácil, não é mesmo?

Em um artigo na revista científica “Scientific American”, a neurocientista da Universidade de Oxford, no Reino Unido, Heidi Johansen-Berg, afirma que muitos eventos diferentes podem aumentar a força de uma sinapse ao aprender novas habilidades. “O processo que compreendemos melhor é chamado de potenciação de longa duração, que consiste em estimular repetidamente dois neurônios ao mesmo tempo a fim de fortalecer a ligação entre eles”, afirma. “Depois que essa forte ligação é estabelecida entre os neurônios, ao se estimular o primeiro neurônio, será mais provável que o segundo também se estimule automaticamente”.

Johansen-Berg também escreve que, além de fazer as sinapses existentes ficarem mais fortes, a aprendizagem provoca o crescimento do cérebro. Pesquisadores já foram capazes de visualizar esse crescimento em animais. “Por exemplo, poucos minutos após um rato aprender uma habilidade difícil, como conseguir passar através de um buraco para chegar numa porção de alimento, novas saliências, chamadas espinhas dendríticas, crescem sobre as sinapses em seu córtex motor, a região que permite a animais planejarem e executarem movimentos”, conta.



Quanto mais conexões entre os neurônios são formadas, mais aprendemos e mais informações somos capazes de reter. Conforme as conexão ficam mais fortes, menos precisamos pensar sobre o que estamos fazendo, abrindo tempo e espaço para a aprendizagem de uma nova habilidade.

A ciência ainda tem muito o que aprender sobre a aprendizagem. Enquanto já sabemos como as habilidades de aprendizagem afetam o cérebro, ainda estamos tentando decifrar exatamente por que isso acontece e todos os seus benefícios. Como diz o velho ditado, a prática leva à perfeição, mas a maneira como praticamos é tão importante quanto o fato de estarmos praticando.

Saber como o cérebro se adapta a novas habilidades é apenas parte do processo. Afinal, esse conhecimento é inútil se você não souber como aplicá-lo. Com isso em mente, vamos apresentar alguns dos métodos experimentados e verdadeiros de aprender novas habilidades o mais rápido possível. O segredo é sempre aumentar sua capacidade intelectual, de uma forma ou de outra. Felizmente, isso é surpreendentemente fácil.

4. Obrigue-se a aprender sem guias ou ajuda



Quando estamos aprendendo uma nova habilidade, é muito fácil confiar no YouTube, em tutoriais, orientações ou guias para nos ajudar a iniciar o processo. Isso é ótimo para aqueles que estão apenas começando, mas se continuar fazendo isso com o passar do tempo, nunca vai realmente aprender porque não estamos resolvendo problemas por conta própria.

A fim de aprender, temos de falhar. A jornalista e escritora Annie Murphy Paul chama isso de fracasso produtivo: “Temos ouvido muito ultimamente sobre os benefícios de viver e superar o fracasso. Uma maneira de obter esses benefícios é encarar as coisas de modo que você esteja certo de que vai falhar, ao enfrentar um problema difícil, sem qualquer instrução ou assistência”, propõe.

Manu Kapur, pesquisador do Laboratório de Aprendizagem de Ciências no Instituto Nacional de Educação de Cingapura, relata uma experiência em que as pessoas tentaram resolver problemas muito complexos de matemática. Eles não cconseguiram chegar até a resposta certa, porém foram capazes de bolar diversas ideias sobre a natureza dos problemas e as possíveis soluções de um exercício semelhante, dando-os a chance de executar melhor um desses problemas no futuro. Esse é o chamado “fracasso produtivo”. “Você pode implementar essa ideia na sua própria aprendizagem, permitindo que você lute contra um problema por algum tempo antes de procurar ajuda ou informação”, fala.

Tomemos o exemplo do violão. Você pode facilmente encontrar a partitura de “Paint it Black” online, mas isso não vai ajudá-lo a aprender o som real de cada acorde. Em vez disso, tente descobrir por conta própria antes de buscar uma resposta. Isso é, essencialmente, o que chamamos de “tentativa e erro”. Pode ser frustrante, mas funciona muito bem. O mesmo acontece com qualquer outra habilidade. Claro que às vezes você precisa parar e ir atrás de uma solução, mas você vai ser melhor nisso se você não o fizer.

3. Espalhe o aprendizado ao longo do tempo


Quando estamos tentando aprender algo totalmente novo, pode acontecer de nos empolgarmos e desenvolvermos quase que uma compulsão obsessiva por essa competência. No entanto, isso nem sempre é a melhor ideia. Na verdade, o ato de distribuir uma aprendizagem ao longo do tempo, também conhecida como “prática distribuída”, provou ser a melhor maneira de aprender.

O psicólogo John Dunlosky, da Universidade Estadual de Kent, Ohio, EUA e colegas relatam que espalhar o seu estudo ao longo do tempo e fazer perguntas sobre o assunto para si mesmo antes de um grande teste são estratégias de aprendizagem altamente eficazes. Ambas as técnicas têm se mostrado frutíferas na tarefa de melhorar o desempenho de alunos em diversos tipos de testes. Sua eficácia tem sido repetidamente demonstrada para estudantes de todas as idades.

“Fiquei chocado que algumas estratégias que os alunos usam muito – como a releitura e o destaque de frases importantes – parecem oferecer benefícios mínimos para a sua aprendizagem e para o seu desempenho”, diz Dunlosky.

A prática distribuída é uma técnica antiga, mas que realmente funciona muito bem para as vidas ocupadas que a maioria de nós levamos. Em vez de sentar-se por horas a fio para aprender uma habilidade, experimente a prática distribuída, que consiste em sessões mais curtas, que acabam estimulando as ligações entre os neurônios por mais vezes ao longo do tempo. Assim, em vez de tentar aprender uma habilidade tendo aulas de uma hora de duração cada noite, reserva um tempo maior no geral, mas em pequenos pedaços ao longo do dia. Até mesmo 15 minutos por dia já é o suficiente para muitos de nós.

2. Escolha muito bem seu tempo de estudo



Você não pensaria isso, mas quando você estuda ou pratica uma competência é tão importante como o quanto você o faz. Nosso relógio biológico é ajustado para trabalhar melhor durante certos períodos do dia, e isso vale para o aprendizado também. De acordo com um estudo publicado na revista “PLoS One”, aprendemos melhor quando o fazemos antes de dormir.

O estudo revelou que os indivíduos que foram dormir direto depois de aprender algo conseguiram realizar significativamente melhor em uma série de testes de memória. O sono, portanto, possui um grande impacto sobre a retenção de memória em geral. Basicamente, quando você aprende uma nova habilidade antes de dormir, você está ajudando a fortalecer a ligação entre os neurônios em seu cérebro. Isto significa que você retém essas novas informações de uma forma melhor.

1. Aplique suas habilidades todos os dias



A razão é simples: quanto mais você conseguir aplicar aquilo que está aprendendo no seu dia a dia, mais essa atividade vai ficar na sua cabeça. De pouco adianta você aprender o idioma polonês pela internet se você nunca pratica oralmente, nem lê textos nessa língua ou sequer possui um canal polonês na TV a cabo para se habituar com os fonemas. Simplesmente fica bem difícil.

Quando você aprende algo novo, você implementa tudo que faz a nossa memória funcionar. Quando você é capaz de conectar o que você está aprendendo com uma tarefa do mundo real, isso forma ligações em seu cérebro e, posteriormente, as habilidades que você está aprendendo vão permanecer na sua cabeça. Isto é especialmente verdadeiro com a aprendizagem de uma língua estrangeira, quando a aplicação prática é a chave para aprender rapidamente. Lembre-se do polonês.

Fonte: Hypescience.