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quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Desmatamento é a principal causa das atuais secas no Brasil

São Paulo vem sofrendo a sua pior seca em oito décadas, com chuvas atingindo apenas um terço do nível normal. Sem quedas fortes e prolongadas, a megalópole de 23 milhões de habitantes poderá em breve ficar sem água, alertam os especialistas.

Um crescente número de cientistas acredita que a resposta para o que está acontecendo com os moradores que já sentem a crise nas torneiras de casa não está no céu acima de suas cabeças, mas em décadas de desmatamento da Floresta Amazônica, a centenas de quilômetros de distância.




O corte de árvores, dizem os cientistas, está dificultando a imensa capacidade da selva de absorver carbono do ar e puxar água suficiente por meio das raízes das árvores para abastecer os gigantescos “rios voadores” que movem mais umidade do que o próprio rio Amazonas. Conhecidos também como “rios atmosféricos”, “são imensas massas de vapor d’água que, levadas por correntes de ar, viajam pelo céu e respondem por grande parte da chuva em várias partes do mundo”, explica o engenheiro agrônomo Enéas Salati, da Universidade de São Paulo (USP).

Estudos estimam que mais de dois terços da chuva no Sudeste do Brasil, lar de 40% de nossa população, vem desses rios. Quando secam, começa a estiagem. Segundo um estudo recente realizado por Antonio Nobre, cientista do clima do Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CCST), não é só no Brasil que eles desempenham um papel fundamental na meteorologia, mas na América do Sul como um todo.

A pesquisa reúne dados de vários pesquisadores para mostrar que a Amazônia pode estar mais perto de um ponto de inflexão que o governo tem reconhecido, e que essas mudanças poderiam ser uma ameaça para climas em todo o mundo.

A destruição da Amazônia seguiu sem muito controle até 2008, quando o governo reforçou suas leis ambientais e enviou agentes armados para a selva para diminuir o ritmo do desmatamento por pecuaristas, produtores de soja e especuladores de madeira. O impacto foi rápido: a destruição em 2012 foi de um sexto do que foi registrado oito anos antes, embora tenha aumentado nos últimos dois anos.

Mas Nobre e outros cientistas advertem que não é suficiente apenas diminuir o ritmo de destruição – ela deve ser interrompida. “Com cada árvore que cai você perde um pouco mais da água que estaria sendo transportada para São Paulo e o resto do Brasil”, opina Philip Fearnside, professor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, que não fez parte do estudo de Nobre. “Se você simplesmente deixar que isso continue, vai haver um grande impacto sobre os grandes centros populacionais no Brasil, que estão sentindo o aperto agora”.

No início deste ano, pesquisadores da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, destacaram em um artigo publicado no “Journal of Climate” as duas secas que aconteceram em 2005 e 2010 na região, chamadas por eles de eventos “que acontecem uma vez a cada século”. Eles usaram simulações climáticas para descobrir que o desmatamento tem potencial de aumentar o impacto das secas na bacia amazônica.

A seca e a bacia amazônica


A pesquisa mostra que a umidade uniforme da floresta reduz consistentemente a pressão atmosférica na bacia amazônica, permitindo que ela puxe correntes de ar úmido do Oceano Atlântico muito mais para o interior do continente do que nas áreas que não têm florestas. 

Essas correntes viajam em direção ao oeste até que atingem a cordilheira dos Andes, onde se articulam e carregam chuvas para Buenos Aires ao sul, e São Paulo ao leste.

Os rios atmosféricos são gerados pela floresta, que age como uma enorme bomba d’água. As árvores bombeiam cerca de 20 bilhões de toneladas de água para a atmosfera todos os dias – 3 bilhões a mais do que o que o rio Amazonas, o maior do mundo, descarrega no oceano.

Pesquisas recentes indicam que a precipitação diminuiu rapidamente em áreas desmatadas. Quanto menos árvores, menos umidade existe na bacia do Amazonas, enfraquecendo seu “efeito bombeador”.

O relatório de Nobre alerta para a necessidade crucial de replantar um quinto das áreas de floresta que foram destruídas. Além disso, 310 milhões de hectares, uma área duas vezes o tamanho da França, foram degradados e precisam ser restaurados. “Somos como o Titanic se movendo em linha reta na direção do iceberg”, afirma Nobre.

Segundo a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, o governo está preparando um estudo para medir o impacto que o desmatamento teve nas últimas décadas.

A questão é complexa e está ligada a problemas locais e ao próprio desejo do governo de desenvolver a região amazônica, lar de cerca de 25 milhões de pessoas. Teixeira disse que o truque é encontrar o equilíbrio, para ser capaz de usar a floresta para beneficiar a população sem destruí-la no processo.

No entanto, o relatório do Nobre incita o governo a tomar medidas mais urgentes, direcionadas ao desmatamento zero. Além disso, convida os brasileiros a se informarem sobre a abordagem do governo com relação a Amazônia. “O choque das torneiras secas aqui, das cidades alagadas de lá e outros desastres naturais certamente devem provocar uma reação”, acredita o pesquisador.

Racionamento


Na cidade de Itu, que fica a aproximadamente 400 quilômetros de São Paulo, os moradores estão sentindo a seca mais do que em qualquer outro lugar. A água é tão escassa que caminhões de abastecimento foram sequestrados sob a mira de armas. “Estamos com muito medo”, conta Ruth Arruda, uma professora da educação básica que parou de lavar louça e agora usa apenas pratos e copos descartáveis. “A água simplesmente não tem de onde vir. Ninguém está nos ajudando a poupar e as barragens não estão armazenando direito”.

Recentemente, Ruth e sua filha foram a um quiosque local para encher garrafas de refrigerante vazias com água de uma torneira. Até chegar lá, ela passou por diversas casas com placas que retratam o desespero da comunidade: “Socorro, Itu precisa de água”. Na década de 1980, ela diz, a cidade derrubou dezenas de árvores para limpar terrenos nos quais seriam construídas grandes casas para empresários que queriam viver em uma comunidade tranquila, longe de São Paulo. “Temos de olhar para dentro e prestar atenção ao que fizemos de errado para o nosso meio ambiente”, disse a moradora.

Depois de dez meses de racionamento, no último dia 5 o abastecimento de água foi restabelecido na cidade – ainda assim, a orientação é que seja evitado o desperdício. O período de falta de água foi marcado por protestos da população. A decisão foi tomada pela concessionária que administra o sistema da região, a Águas de Itu, que garante que atualmente as represas estão operando com 70% da capacidade.

Passada a crise, a cidade realizou uma assembleia para discutir medidas para poupar água. Além disso, muitos moradores garantem ter aprendido uma lição com as dificuldades enfrentadas neste ano e vão continuar com os bons hábitos de economia. “O tempo de lavar calçada com esguicho já acabou”, disse a aposentada Maria Aparecida Lima em entrevista ao portal G1. “Eu sempre falo para os meus netos: eu não estou sentindo falta de água, mas vocês, se não economizarem agora, vão sentir falta de água mais tarde”. 

Fonte: Hypescience

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Seis efeitos inesperados da mudança climática


Junto com seus efeitos indutores de ansiedade, o assunto das mudanças climáticas também oferece uma oportunidade interessante de considerar os processos fascinantes e interligados do planeta. Dos menores para os maiores componentes da Terra, das bactérias aos vulcões, todos de alguma forma vão sentir os efeitos das mudanças climáticas. Confira seis maneiras inesperadas com que as mudanças climáticas nos impactam:

6. Morte e erosão no deserto


O solo do deserto pode parecer desolado e sem vida, mas na verdade está repleto de bactérias. Colônias de bactérias podem crescer a tal espessura que formam camadas resistentes chamadas “biocrostas” que estabilizam o solo contra a erosão.

Um estudo destas crostas em desertos dos Estados Unidos mostrou que diferentes tipos de bactérias prosperam em diferentes temperaturas. Algumas preferem o calor sufocante do Arizona e Novo México, enquanto outras se saem melhor no clima frio do sul do Oregon e Utah. Como as temperaturas tornam-se mais erráticas com a mudança climática, as bactérias do deserto podem ter dificuldades para se adaptar, deixando os solos dos desertos mais propensas à erosão.

5. Mais erupções vulcânicas


Enquanto o degelo glacial avança, inundações dos oceanos e o nível do mar se elevam, e a distribuição de peso sobre a crosta da Terra muda.

Essa mudança pode causar aumento da frequência de erupções vulcânicas, como sugerem alguns estudos. Evidências desse fenômeno foram detectadas no registro das rochas, com restos de erupções vulcânicas mais abundantes correlacionadas com períodos de derretimento glacial em vários episódios da história da Terra. 

Os seres humanos no século 21 provavelmente não experimentarão essa mudança, no entanto, uma vez que este efeito deve ficar para algo em torno de 2.500 anos no futuro.

4. Oceanos escurecem


As alterações climáticas vão aumentar a precipitação em algumas regiões do mundo, resultando em rios com fluxos mais forte. Fortes correntes fluviais vão carregar mais lodo e detritos, e eventualmente todos que desaguam no mar farão o oceano ficar mais opaco. Regiões ao longo da costa da Noruega já experimentam águas do oceano cada vez mais escuras e turvas, com o aumento da precipitação e derretimento glacial nas últimas décadas. Alguns pesquisadores têm especulado que a escuridão é responsável por mudanças nos ecossistemas regionais, incluindo um aumento nas populações de água-viva.

3. Alergias pioram


Enquanto a mudança climática pode provocar primaveras precoces, a onda de espirros induzidos pelo pólen deve aumentar. Esse fenômeno irá aumentar a carga total de pólen a cada ano, e poderia fazer as alergias das pessoas piorarem. Alguns modelos de temperatura e precipitação mostraram que os níveis de pólen poderiam atingir mais que o dobro até o ano 2040.

2. Invasões de formigas


Pheidole megacephala, também conhecida como a formiga de cabeça grande, é uma das cem espécies mais invasivas da Terra. Hordas desses insetos prosperam na América do Sul, Austrália e África, e suas populações vorazes espalharam-se rapidamente. Como animais invasores, elas roubam o habitat e os recursos de espécies nativas, prejudicando os ecossistemas regionais e pondo em risco a biodiversidade. Elas têm sido conhecidas até por caçar filhotes de aves.

Pesquisadores estimam que 18,5% da superfície terrestre no planeta atualmente suportam a formiga de cabeça grande. Mas à medida que as mudanças de temperaturas avançarem nas próximas décadas, a gama de habitat desses animais de sangue frio, provavelmente, vai diminuir substancialmente. Alguns modelos climáticos sugerem que o alcance habitacional da formiga irá diminuir em um quinto até o ano de 2080. Como insetos nativos irão responder a essas mudanças, no entanto, ainda não está claro.

1. Luz solar inunda leito oceânico polar


Enquanto se derrete o gelo do mar, mais luz solar irá banhar regiões costeiras de águas rasas em torno dos pólos. Comunidades de vermes do fundo do mar, esponjas e outros invertebrados acostumados a existência na escuridão começarão a experimentar períodos mais longos de luz solar a cada verão. Uma pesquisa recente mostrou que essa mudança poderia alterar significativamente as comunidades, permitindo que algas e plantas marinhas proliferassem sufocando esses invertebrados. Esta transição de comunidades dominantes, de invertebrados para algas, já foi observada nos bolsos do Ártico e costas da Antártida, e poderia diminuir significativamente a biodiversidade nessas regiões. 

Fonte: Hypescience.