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quinta-feira, 11 de abril de 2013

Dá para mudar a personalidade? Terceira parte

 Depois de passarmos pelo reconhecimento da consciência, a influência dos nossos pais, criação e outros fatores culturais, econômicos e sociais que interferem na nossa formação, a questão agora é: Dá pra mudar quem eu sou? Ou é tudo culpa da sociedade? rsrs.

"Dizer que não é radical. Dizer que sim é mentiroso. Pois é... A resposta é mais complicada do que você pensa. Imagine um sapato. Olhando o estilo e o estado, você é capaz de supor muita coisa sobre o dono. Dá para imaginar como ele se veste, do que gosta, se é sério ou descontraído. Dá para arriscar seu escritor favorito, em quem ele votou na última eleição, se acredita em deus e até se ele faz o seu tipo. Sua personalidade é como esse sapato: um reflexo de como você se vê e de como é visto.

Parece que não, mas, para chegar a esse modelo de calçado, você fez muitas escolhas: filtrou influências, ouviu opiniões, testou conforto, analisou preço. Da mesma maneira, diversos fatores interferiram na formação da sua personalidade: seus pais, seus amigos, o lugar onde você cresceu, o período em que viveu. E sua genética, claro, que, do mesmo jeito que deixa uma forma única no sapato, molda uma parte de você.


O resultado é um conjunto de padrões de comportamento bem difícil de ser explicado ou medido pela ciência. Desde o fim do século 18, muitas teorias foram criadas. Hoje, uma das mais aceitas é a dos 5 Grandes Fatores, um modelo desenvolvido nos anos 80 pelos americanos Robert McCrae e Paul T. Costa. Ela conseguiu de maneira simples e abrangente classificar os traços de personalidade reconhecidos tanto por especialistas quanto por leigos.


Para criá-la, partiu-se do pressuposto de que todos os aspectos da personalidade humana estão registrados na linguagem que eu, você ou um habitante da Antártida usamos para definir alguém: implicante, curioso, falante, preguiçoso, organizado... Os pesquisadores juntaram todos os adjetivos possíveis e tentaram reuni-los em grandes famílias. Chegaram, assim, a 5 fatores - extroversão, neuroticismo, abertura à experiência, consciência e afabilidade -, cada um contendo dezenas de traços psicológicos.


A extroversão agrega tudo o que diz respeito à sociabilidade: em um extremo estariam pessoas com muita disposição, otimismo e afetuosidade; no outro, as mais sérias e reservadas. Neuroticismo foi o termo encontrado para reunir características relacionadas à estabilidade emocional. O nível de ansiedade, nervosismo e irritabilidade, por exemplo, é retratado nesse grupo. Abertura à experiência é o que mede o interesse por experimentar muitas áreas diferentes (aqui são registrados o senso de estética, as ideias e os valores). 


Dentro do fator consciência estão representados o senso de responsabilidade, a disciplina e o sentido prático. E o fator afabilidade basicamente diz como você se relaciona com outras pessoas - se é generoso, leal e sensível ou mais desconfiado e individualista. Teoricamente, todos os traços de personalidade poderiam ser encaixados em um desses grupos.

Essa padronização abriu caminho para o desenvolvimento de uma série de avaliações que tentam definir objetivamente a personalidade de alguém. Os testes medem os diversos traços em uma escala que vai, geralmente, de 1 a 5. No final, tem-se um retrato de quais são suas características dominantes e quanto elas são representativas na sua vida. 


Você é assim. E agora?

Isso significa que vai ser assim para sempre? Essa pergunta é o calo no pé dos estudiosos. Alguns dizem que, como o corpo, a personalidade muda ao longo do tempo. Outros rebatem que a personalidade seria como a cor dos olhos - se você nasceu com ela, vai morrer com ela. Para outros, o melhor paralelo é a altura: é desenvolvida até certa idade, depois estaciona e não muda mais.


A última versão é a mais aceita pelos especialistas. Mas você terá mais que 18 anos para se definir. Na verdade, terá por volta de 30. Depois disso, pouca coisa vai mudar. "Esse limite não é imposto pela biologia", diz Maria Elisabeth Montagna, professora de psicologia da PUC de São Paulo. "É apenas uma época em que se considera que o adulto já é independente e maduro. Dependendo da pessoa ou da cultura em que ela foi criada, a definição da personalidade pode vir antes ou depois."


O ponto é que a partir dos 30 anos a sua personalidade tende a se congelar como é. Um estudo feito nos EUA com pessoas que 45 anos antes haviam respondido questionários sobre a sua personalidade mostrou que os hábitos cultivados na velhice poderiam ter sido previstos por traços identificados na juventude. Jovens que demonstravam ser criativos, curiosos e liberais tinham se tornado velhos que com hobbies artísticos e que preferiam assistir a programas alternativos. E os que na juventude eram mais conservadores e pés no chão viraram idosos que se divertiam costurando, cozinhando, cuidando do jardim e vendo shows de auditório.


Quer dizer, então, que exatamente quando chegamos à fase adulta, quando melhor nos conhecemos e mais sabemos lidar com nossos conflitos, já não é possível mudar nada? Não é bem assim. Mas a partir daqui, amigo, você vai ter que trabalhar com o que você tem.

 

Como exemplo, a pessoa 1, retratada em um dos gráficos abaixo. A bolota localizada bem no extremo inferior da parte marrom denuncia: é alguém passional, de humor instável, que costuma reagir antes de pensar. Passar para o outro lado do círculo e se tornar 100% controlada e fria é impossível. Mas ela pode, sim, aprender a prever suas emoções para evitar futuros arrependimentos. Seria, portanto, caminhar em direção ao centro do gráfico, suavizando uma característica inconveniente.

 



Do mesmo jeito, quem é muito tímido jamais vai ser o piadista da turma, quem é disciplinado não deixará de se incomodar com imprevistos, quem é muito conservador nunca usará uma camisa rosa-choque. Mas, com os trancos e as necessidades, dá para falar em público, se organizar em meio ao caos ou aceitar uma gravata rosada. Adaptar-se é uma questão de sobrevivência. O quanto você vai conseguir se adaptar é questão de força de vontade.


Pense antes de casar

É que nem sempre querer é poder. Se não conseguir mudar o seu temperamento, a pessoa 1, por exemplo, terá uma boa desculpa: os traços de personalidade relacionados ao neuroticismo são os mais difíceis de mudar. Aqui estão adjetivos como passional, irritável, vulnerável e ansioso.


Foram esses os principais motivos do divórcio ou da infelicidade no casamento de 300 casais americanos que participaram de uma pesquisa realizada pelos psicólogos E. Lowell Kelly e James Conley e publicada em 1987. O questionário, aplicado a primeira vez em 1935 e mais uma vez 45 anos depois, demonstrou que instabilidade, reações explosivas e excesso de brigas exerciam influência muito maior nas crises de relacionamento dos casais que questões ligadas a trabalho, à família ou ao sexo. E pior: mesmo cientes disso, a maior parte dos cônjuges problemáticos não conseguiu se ajustar em prol do casamento.


A dificuldade faz sentido: os traços ligados ao neuroticismo são os com maior tendência a se tornarem transtornos psiquiátricos. Nesses casos, só com terapia.


Você está achando tudo um exagero e acabou de pensar em um monte de casos em que o marido ficou mais organizado, sociável e amoroso ao longo dos anos. É possível. Mas não se case pensando neles. Mesmo em campos aparentemente mais moldáveis, como o da extroversão ou o da consciência, a mudança costuma ser tímida (alguns estudiosos arriscam um máximo de 10%) e tem que partir da outra pessoa, e não de você.


Não conseguir mudar o outro é uma má notícia. Mas pense pelo lado bom: se o outro for você, pode não ser tão ruim assim. "A continuidade da nossa personalidade é a fonte para a constituição da nossa identidade", afirmam McCrae e Costa. O que eles querem dizer é que, no fundo, permanecer mais ou menos igual é importante para o equilíbrio da nossa vida. Não dá pra ser uma pessoa diferente a cada instante, simplesmente porque o mundo nos exige coerência. Você precisa saber quem você é e os outros, o que esperar de você. Ou, mais do que flexível, você pareceria um louco.



5 fatores

Segundo uma das teorias mais aceitas entre os psicólogos, tudo o que você é cabe dentro destes grupos. Veja alguns exemplos:


Extroversão

- Reservado x afetivo
- Tímido x sociável
- Quieto x falante
- Insensível x passional
- Discreto x alegre


Neuroticismo

- Tranquilo x tenso
- Constante x instável
- Satisfeito x autopiedoso
- Racional x emocional
- Seguro x inseguro


Abertura

- Realista x imaginativo
- Convencional x original
- Rotina x variedade
- Pouco curioso x curioso
- Conservador x liberal

 
Afabilidade

- Cruel x piedoso
- Duvidoso x confiável
- Mesquinho x generoso
- Crítico x tolerante
- Rude x cortês

 
Consciência

- Negligente x responsável
- Preguiçoso x trabalhador
- Bagunceiro x organizado
- Atrasado x pontual
- Acomodado x ambicioso


Para saber mais

Teorias da Personalidade
Duane Schultz e Sidney Elle Schultz, Cengage Learning, 2008.

Personality in Adulthood

Robert McCrae e Paul Costa, The Guilford Press, 2006.

Fonte: Super Interessante - 2009

Formação da personalidade - Parte dois

Agora que já entendemos como se forma aquela "vozinha interior" que chamamos de consciência e de como essa visão de nós mesmos nos ajudaram a formar nossa personalidade desde os primeiros momentos de vida, até dos quais não conseguimos nos lembrar quando pequeno, vamos analisar a influência de uma pessoa muito importante e que sem ela, não estaríamos aqui, lendo este artigo.

"Tudo sobre a sua mãe

Ela trouxe você ao mundo, secou suas lágrimas e criou você. Mas qual é a verdadeira relevância da sua mãe? Entenda aqui por que a pessoa mais importante da sua vida pode ter tido pouca influência sobre você.


Aos poucos, a barriga vai ficando grande e rígida. A pele se estica e racha. A coluna enverga: o quadril caminha para trás, os ombros caem. Dentro do corpo, o volume de sangue começa a aumentar até ficar 50% maior. Para dar conta de tanto líquido, o coração passa a bater acelerado, sem previsão de desacelerar nos próximos meses. Devagarzinho, uma força enorme vai empurrando órgãos internos: estômago, intestino e bexiga ficam atrofiados e desregulados. Manchas na pele, retenção de líquido, prisão de ventre. Depois de 9 meses, o resultado. De dentro desse corpo adoentado nasce uma criança. Junto com ela, vem ao mundo uma mãe - a pessoa mais importante que o bebê conhecerá na vida. Entenda aqui por que você pode culpá-la (ou agradecê-la) por tê-lo dado à luz. E por que, talvez, ela não tenha nada a ver com o que você é hoje. Com vocês, tudo (ou quase) que a ciência diz sobre a sua mãe.


Ninguém tem dúvidas de que a mãe influencia a vida dos filhos. Essa ideia parece óbvia. Basta olhar ao redor: pais gentis, bem-educados e inteligentes costumam ter filhos gentis, bem-educados e inteligentes. Filhos de mães abusivas ou instáveis muitas vezes repetem o mesmo padrão na hora de casar e educar os filhos. Tudo indica que a maneira como foram criadas deixa marcas na vida das pessoas. E essa crença é reforçada pela psicologia. A mais importante das teorias psicológicas surgiu com o 2º austríaco mais famoso do mundo, Sigmund Freud. Ele também acreditava que a personalidade dos filhos é formada pelos pais.

As suposições do austríaco são muitas, e ele mesmo não parou de reescrevê-las até sua morte, em 1939. O que não muda muito é a ideia de que o desenvolvimento da personalidade passa por diversas fases na infância - focadas em rituais como a amamentação, o uso do penico, a descoberta dos órgãos sexuais. Se os pais atrapalharem a passagem dessas fases, a criança pode se tornar um adulto compulsivo ou imaturo ou agressivo... e por aí vai. 


Todas as fases descritas por Freud podem ser observadas em crianças pequenas, mas os indícios científicos de que elas sejam determinantes para a personalidade na vida adulta são frágeis. Por isso, ultimamente, o pai da psicanálise tem apanhado bastante. "Freud raramente é estudado nos departamentos de psicologia das grandes universidades hoje em dia. Você pode encontrá-lo muito mais nas aulas de história ou de literatura", diz Paul Bloom, professor de psicologia da Universidade Yale, nos EUA, em seu curso de graduação. Realmente, antes de Freud, o papel dos pais era muito diferente. Uma mãe dos tempos das cavernas estava preocupada apenas em fazer o filho sobreviver à infância. Da idade média ao século 18, o filho era considerado posse dos pais e podia ser ignorado e maltratado a valer. Até o século 20, os pais eram aconselhados a não demonstrar amor pelos rebentos. É duro dizer isso, mas acreditar que tudo o que sua mãe fez quando você era criança influenciou no que você é hoje é coisa apenas do nosso tempo e cultura.

Onde foi que eu errei?

Mamãe mentiu para você. Provavelmente ela falou que gosta de todos os irmãos da mesma maneira, mas a verdade não é bem por aí. Toda mãe tem seu filho favorito - e trata cada irmão de maneira diferente. Um estudo que hoje já se tornou clássico, feito pelo biólogo americano Frank Sulloway em 1996, mostra que 66% dos pais admitem que preferem um filho a outro. E outra pesquisa confirma: 87% das mães reconhecem que amam mais o caçula.


Mas, antes que você odeie seu irmãozinho para sempre, é preciso entender que nem sempre é a ordem de nascença que cria o favoritismo. Mães tratam os filhos de maneiras diferentes simplesmente porque eles são diferentes. "As atitudes dos pais vão de acordo com a personalidade que a criança já tem de nascença", diz Viviane Feldens, doutora em psicologia e especialista em crianças. Vamos imaginar uma mãe com dois filhos: um retraído e outro impetuoso. É provável que o filho acanhado receba incentivos para se tornar mais extrovertido, mas que o filho destemido conviva com uma mãe que o impede de fazer as coisas. Ou seja, foram educados de maneiras opostas, apesar de ter os mesmos pais.


No caso acima, o temperamento que a criança traz de nascença determinou como ela foi educada. Em outros casos, como no aprendizado da linguagem, a educação que o filho recebe fica em primeiro plano. Foi ao observar essas questões que os psicólogos do século 20 elaboraram a pergunta tão temida por quem estuda personalidade: o que influencia mais, a genética ou a educação? Dez entre 10 psicólogos e cientistas preferem a resposta salomônica: "50% DNA, 50% educação". Ok, a genética é fornecida totalmente pelos pais. Mas e esse ambiente, do que se trata?


Vai brincar lá fora, vai

Em 1931, numa época em que a ética não era grande empecilho para desenvolver a ciência, um casal de psicólogos americanos decidiu testar o que influenciava mais uma criança: a genética ou a educação. Para fazer isso, adotaram uma bebê chimpanzé, Gua, que foi criada exatamente da mesma maneira como seu filho humano recém-nascido, Donald. Durante quase dois anos, Gua e Donald faziam tudo igual. E, para desespero dos pais, Gua aprendia tudo sempre muito mais rapidamente. Ela usou talheres primeiro, ajudava a se vestir com mais facilidade e começou a avisar os pais que precisava do penico antes de Donald. E o mais bizarro: ensinou o irmão a falar macaquês. Com quase 2 anos, numa idade em que as crianças já têm um vocabulário (humano) de 50 palavras, Donald ficava no "uh-uh, uh-uh". 


Como era de esperar, a essa altura do experimento, Gua foi mandada de volta para o zoológico. O que esse estudo nos diz? (Não, nada disso. Donald não era menos favorecido no quesito inteligência. Quando adulto, ele se formou em medicina em Harvard.) O experimento mostra que, apesar dos genes humanos, Donald estava agindo de acordo com o ambiente onde fora criado, o da irmã macaca. Mas a pergunta central aí é outra: por que o menininho estava se adaptando aos hábitos do chimpanzé e não aos dos pais?

A resposta: talvez outras pessoas, que não os pais, sejam mais importantes no desenvolvimento da criança. Por que tantos pais flamenguistas não conseguem evitar que seus filhos virem pequenos vascaínos? Por que filhos de pais imigrantes aprendem a língua do novo país como se não conhecessem outra língua materna? Tudo indica que os amigos têm mais importância na formação dos filhos do que se imagina.


A defensora da teoria "amigos são tudo" é a psicóloga americana Judith Harris. Para ela, os pais têm quase nenhuma influência no desenvolvimento do filho. E ela tem bons argumentos. Um deles é uma das maiores pesquisas já feitas com filhos adotivos. Há mais de 3 décadas, a Universidade do Texas vem acompanhando o desenvolvimento de 700 filhos adotados e suas famílias (biológicas e não) para medir fatores como inteligência, autoestima e ajustamento. Os resultados mostraram que, quando adultas, as crianças adotadas eram muito mais parecidas com seus pais biológicos do que com os pais adotivos, com quem tinham passado a vida toda. Em outras palavras, a criação de casa tinha deixado poucas marcas permanentes.


Para Judith, a única marca indelével trazida pelo ambiente vem dos amigos. A explicação é biológica. Durante milhões de anos de evolução, a nossa sobrevivência dependeu da capacidade de viver em grupo: aprendemos a agir, falar e nos comportar com as pessoas ao nosso redor. Aí é que está o pulo-do-gato: a criança reconhece o grupo nas pessoas da mesma idade e nicho que ela, ou seja, nos amigos - e não nos pais. Por isso Donald começou a imitar sua irmã macaca e ignorou a mãe. Por isso, no fim das contas, a criança torce pelo time, fala a língua e desenvolve a personalidade parecida com a dos amiguinhos. E a influência dos pais? Para Judith, eles que se contentem em fornecer a genética.


Trancamos no porão, então?

Já que a educação dos pais não interfere no desenvolvimento dos filhos, não é preciso tratá-los com carinho e amor, certo? Errado. Peguemos o caso de Joseph Fritzl, o 2º austríaco mais infame do mundo. Ele trancou a filha durante 24 anos no porão, abusou dela e teve 7 filhos frutos do incesto. A filha de Fritzl dificilmente será uma pessoa normal - e não é pela falta de amigos. Um experimento feito com filhotes de macacos Rhesus que sofreram abusos e foram negligenciados pelas mães mostrou que maus-tratos deixam sequelas cerebrais permanentes. Ou seja, quem sofre abusos na infância não produz serotonina em níveis normais, e vira um adulto deprimido e agressivo - que possivelmente também abusará dos filhos. É um caso inegável da mãe determinando a vida dos filhos. E há outros.


Religião, valores, habilidades artísticas ou esportivas, escolha da profissão: tudo isso pode ser influenciado pelos pais, porque são aspectos ensinados quase exclusivamente dentro do ambiente familiar - e não fora dele. "Quando os pais escolhem a escola onde vão matricular os filhos, já decidem também que tipo de amigo as crianças vão ter", diz Viviane Feldens.  


Quer dizer, decidem que tipo de amigo vai interferir na personalidade. É com a mãe também que a criança aprende a se socializar. São essas as referências que ela vai levar na hora de fazer as primeiras amizades. E, como se tudo isso já não fosse o suficiente, as mães ainda carregam o enorme fardo de ser a pessoa mais importante na vida dos seus filhos. Numa pesquisa feita no ano passado pelo Núcleo Jovem da Editora Abril, com 1 600 jovens de todo o país, as mães foram apontadas como a pessoa mais amada por 92% deles. (Os pais amargaram um distante 3º lugar, com 59%, atrás até de irmãos e irmãs.) Pois é, mesmo se ela não tiver influência alguma na sua vida, mãe continua insubstituível.

Mãe só tem muitas

Em diferentes épocas e lugares, pessoas tentaram explicar como se forma a personalidade humana e acabaram colocando a mãe no meio.


Sem traumas

Na maioria das sociedades tribais não existe a noção de que a mãe é essencial para formar a personalidade de ninguém. Nas tribos amazônicas, quem educa as crianças são os irmãos ou primos mais velhos. No mundo ocidental até o século 18, a moda era amarrar os braços e as pernas dos bebês para que eles dessem menos trabalho nos primeiros meses de vida. E, claro, não havia o conceito de trauma.


Freud explica

Ele realmente tentou explicar tudo. Para Freud, a simples presença dos pais já tem consequências sobre a formação da criança. Os desejos e sonhos que a mãe projeta sobre o filho e a maneira como ela o trata definem a pessoa que ele será. Hoje, boa parte da psicologia se divide em duas: os que se baseiam na teoria de Freud, e os que a rejeitam.


Folha em branco

John Locke, o filósofo inglês, (não o careca do Lost) certa vez disse: "A mente do bebê é uma folha em branco". Esse virou o lema de alguns behavioristas, o grupo de psicólogos que achava ser possível moldar a personalidade da criança em qualquer direção. Para fazer isso, bastaria que os pais recompensassem os comportamentos desejados. A técnica funciona com alguns hábitos, mas não para formar caráter.


Estimulante

Hoje, se sabe que a mente do bebê é tudo menos folha em branco. Ele percebe o mundo ao redor, reconhece pessoas e, mais importante, nasce com traços de personalidade já perceptíveis. Por isso, cabe à mãe estimular esse cérebro em formação. Ler em voz alta, conversar muito, tocar Mozart antes de dormir são algumas das dicas, que ninguém sabe ao certo se farão efeito na vida adulta.


Diga-me com quem andas

A citação é da Bíblia, mas foi a psicóloga americana Judith Harris que a transformou em ciência. Para ela, são os amigos que formam a personalidade da criança. Eles é que ensinam linguagem, comportamentos e influenciam se a criança vai gostar de ler ou estudar, por exemplo. A mãe interfere nesse processo só ao escolher em que escola e bairro a criança vai crescer."



Para saber mais

The Nurture Assumption
Judith Rich Harris, Free Press, 2009.


Introduction to Psychology: Sigmund Freud
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